sexta-feira, 15 de julho de 2016

Da festa à tempestade - Cartas de Nice

De Bagão Félix, (por acaso) em Nice

«(...)
Um fio, um acaso, uma aragem pode separar-nos do local errado para uns e do local certo para outros. O sentimento de total discricionariedade. A interrogação sobre esta fronteira. A passagem de um mundo de incerteza e de risco para um tempo dos seus graus mais superlativos: a total imprevisibilidade e o medo pelo medo.

Estou a escrever estas breves palavras na manhã depois de um acto que nos faz interrogar sobre a face mais selvagem do ser humano e do horror da incivilidade destrutiva. Agora é o silêncio nesta bela avenida, apenas interrompido pelos aviões na aproximação ao aeroporto e pelas sirenes das ambulâncias.

O que mais retenho na minha mente e no meu coração é imaginar meninas e meninas que observei naquelas horas, tão felizes agora roubadas nas suas vidas de esperança. E, sempre, a inquietude e interrogação sobre o que chamamos o acaso, o destino, o fado. E eu que tenho fé, pergunto-me: porquê, meu Deus?»
(Expresso)

Matisse - Tempestade em Nice

Mon cher André,
Ta lettre m’a fait bien plaisir. Soigne-toi bien. Ecris-moi un mot de temps en temps […] Salue bien Nice de ma part.

Va manger des pâtes chez Guys aux Ponchettes, dans le Vieux Nice, des sanguins à la cave de Falicon, de la daube chez Boutteau, rue Colonna d’Istria, les raviolis à la blette chez la Bicon, au fin fond de la Promenade desAnglais. Dessine et même, si tu as le temps, peins un peu selon ton sentiment une figure entrouverte ou une voile sur la mer.

Carta de Apollinaire a André Rouveyre (1916)

(André Rouveyre, desenhador/pintor/jornalista/ensaísta, amigo de Apollinaire e de Matisse)

Matisse - Festival das Flores

Nas redes sociais, as pessoas recuperaram a bandeira francesa, já guardada no baú desde o último atentado.
Uma desgraça para nos recompor da aversão aos franceses manifestada na última semana.


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