domingo, 24 de abril de 2016

Amor, que o gesto humano na alma escreve

 Amor, que o gesto humano na alma escreve, 
Vivas faíscas me mostrou um dia, 
Donde um puro cristal se derretia 
Por entre vivas rosas e alva neve. 

A vista, que em si mesma não se atreve, 
Por se certificar do que ali via, 
Foi convertida em fonte, que fazia 
A dor ao sofrimento doce e leve. 

Jura Amor que brandura de vontade 
Causa o primeiro efeito; o pensamento 
Endoudece, se cuida que é verdade. 

Olhai como Amor gera, num momento 
De lágrimas de honesta piedade, 
Lágrimas de imortal contentamento. 

Luís de Camões



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