quinta-feira, 14 de abril de 2016

Amadeo a caminho de Paris (1906)

«Há os que partem e retornam, tendo Paris como farol donde chegam as novas do Planeta. Cumprir-se nessa cidade, com os boulevards descerrados às efemérides e ao sonho, parecerá aos insatisfeitos o único risco a correr, o único sobejante da apatia a que o berço os condenou. Daí que se torne instante abalar.»

«Lisboa, quinta-feira. Minha Maman: Chego agora de Linda-Pastora sob a luz offuscante dum sol que não quer acreditar que o inverno está próximo. (...) Eu e o meu camarada embarcamos amanhan. O tempo está limpo e sereno e o vapor já nos espera ali no Tejo. Tenho uma grande dôr de os deixar, a si, ao santo do Papá e a todos. Além disso, eu sou um espírito dramatico e a minha alma representa sempre uma tragedia em que eu sou o unico espectador. Contudo, no meio deste luto, eu vou rindo - rindo diabolicamente. Isto não quer dizer que me julgue infeliz - não. Se qualquer quizesse trocar a sua infelicidade pela minha desgraça eu não trocava. Os meus destinos só estão bem commigo, ou por elles triumpho ou por elles sou esmagado. Adeus minha Mãe, esperam-me para comprar bilhete - adeus. Mil coisas do coração do seu filho Amadeo.»

«A caminho de Paris, com Francisco Smith, perscrutando da coberta ondulante o deslizar da chuva pelas vidraças, Amadeo visaria mais à frente que à retaguarda.»


Mário Cláudio, Amadeo



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