terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O Irreal Quotidiano

«Bem. Encontrei o título: O Irreal Quotidiano. Agora, falta o livro. E o subtítulo - importantíssimo! - que apague no leitor a ideia de que se trata de mais uma confissão de sabor memorialista.
A O Mundo dos Outros, para evitar a palavra crónicas classifiquei no frontispício de Histórias e vagabundagens
E a este? Que porei debaixo de O Irreal Quotidiano?
A primeira ideia que me veio à cabeça foi esta: Histórias e invenções. Ou Histórias secretas e invenções. Ou Histórias públicas e invenções. Com uma prevenção deste género no rosto de livro:

"A primeira classificação que me acudiu para subtítulo deste livro foi a de anti-contos e invenções. Mas mal desenhei essas palavras no papel, senti um arrepio de vómito... Eh! José Gomes Ferreira! Anti, não. Por favor, não sigas a moda. E berra comigo: abaixo o anti-isto! O anti-aquilo! O anti-nada! - que, com a franqueza perfeita que devo à minha época, já mete nojo!
Então resolvi chamar a estas prosas "histórias públicas e invenções". Que diabo! Neste momento de confusão de géneros, também me sinto no direito de trazer a minha confusãozinha à trapalhada geral com as minhas invenções.
Embora o simplificador que vive em mim no fundo opine - e com razão! - que o problema se resolveria facilmente, se eu lhes chamasse o nome que sempre lhes deram: crónicas.
Mas serão de facto crónicas? Não serão anticrónicas?
Deixo o problema aos estudiosos que, assim, poderão ficar por esta página sem necessidade de ler o resto do livro.
Este problemazinho de caca chega para justificar o número habitual de linguados da crítica!"

Ousaria publicar isto?
Com outra forma menos directa talvez.»
José Gomes Ferreira, Dias Comuns IV
(entrada do dia 9 de Fevereiro de 1968)

Capa da 1.ª edição (1971)
O Irreal Quotidiano sem qualquer prevenção no rosto... 


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