José Pacheco Pereira, Público, 27 de Fevereiro de 2016
domingo, 28 de fevereiro de 2016
Há uma certa tristeza nisto tudo
«Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são. Na política, o país está num impasse, mas parece que não. Como acontece por toda a Europa, a impotência do poder político democrático face ao poder económico castrou governos eleitos e submeteu-os a entidades obscuras como os “mercados”, onde o grosso do dinheiro que circula não tem pai nem mãe, a não ser numa caixa de correios das ilhas Caimão. O sistema político democrático, a representação partidária tradicional, está numa crise que parece não ter saída. Os partidos do “arco da governação”, ou seja, os que têm o alvará de Bruxelas, do senhor Schauble, da Moody’s e da Fitch, ainda ganham as eleições num ou noutro país, mas ninguém os quer ver a governar outra vez, pelos estragos que fizeram à vida dos homens comuns para salvar a banca, não tendo no fim salvado coisa nenhuma.»
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Um à sua direita, e outro à sua esquerda...
«Lá estão, pendurados na parede, e a vigiar em última instância a prestação dos examinandos, o Presidente do Conselho, a quem Dona Alda chama "o nosso homem do leme", e o da República, a quem a dita senhora atribui "carácter bem temperado". (...) Fica então muito quedo, e de mãos sobrepostas no tampo da carteira, a mirar aquele Jesus Cristo que, agonizando na cruz no meio dos dois presidentes, o do Conselho e o da República, por que razão o abandona.»
Mário Cláudio, Astronomia
Aguçar a inteligência e disciplinar a ansiedade
«De fato completo, e de laço à gato, apresenta-se na sala de aula da escola oficial, (...) cumprindo um rito que possui tanto de palpitante como de ameaçador. Observa com curiosidade os restantes rapazes, e enfrenta com coragem as provas a que o sujeitam, de ditado, de redacção, de aritmética, e de desenho, animado pela discreta energia que lhe advém do dedalinho de vinho do Porto, de boa colheita, que a Mãe, honrando uma antiga tradição da família, o convida a escorropichar, a fim de que se lhe aguce a inteligência, e se lhe discipline a ansiedade.»
Mário Cláudio, Astronomia
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Homo genuflexus
E por falar em ajoelhar...
«Pedro Passos Coelho, depois de ter sido durante quatro anos no governo um exemplar Homo genuflexus, apresenta-se agora na oposição como modelo do Homo firmus e erectus na relação com Bruxelas. É verdade que para usar na lapela o verbo “social-democracia sempre” tem de apagar do cadastro as máculas neoliberais – não vale a pena negar o óbvio, aquilo que se fez no Portugal do ajustamento foi privatizar a eito, cortar despesa pública para reforço do sector privado, aumentar impostos à bruta e desregulamentar o mercado de trabalho para facilitar o capitalismo selvagem – que lhe iluminaram o caminho da governação. Mas, mesmo na retórica de campanha eleitoral, exige-se decoro. Se António Costa “ajoelhou” perante a Comissão Europeia veremos mais adiante. É verdade que a austeridade não acabou e, como diz Passos Coelho com razão, foi rebatizada, com o Orçamento a passar de austeritário a restritivo. Como já aqui disse, a austeridade de direita foi substituída pela da esquerda. De uma a outra, venha o diabo, mas esta é seguramente mais equitativa e, por isso, mais justa do ponto de vista social já que não recai sobre os rendimentos do trabalho e, pelo menos, impõe aos habituais isentos de esforço a obrigação de contribuírem para a comunidade. Mas, pelas almas, que autoridade tem o anterior primeiro-ministro para encher a boca com tais denúncias? Seguramente que nem os seus acólitos mais entusiastas se esquecem das idas regulares à chancelaria alemã para fazer provas de diligência e promessas de ir além da troika à senhora Merkel. Ou das imagens recorrentes da subserviência de Vítor Gaspar em Bruxelas perante o poderoso senhor Schäuble. Ou mesmo da exibição de Maria Luís Albuquerque em Berlim, em vésperas de eleições, como modelo de aluna bem-comportada. Ajoelhar é isto. Aceitar tudo sem questionar ou sequer tentar negociar. Aquilo que o actual governo fez foi, apesar de tudo, diferente. Negociou, cedeu como é próprio destes processos, e, como escrevia Freitas do Amaral nesta semana na Visão, conseguiu na Comissão Europeia e no Eurogrupo a aprovação de um Orçamento social e não neoliberal, o primeiro desde a criação do euro. De Passos Coelho aquilo que temos para recordar são anos a fio a genuflectir e a resignar, por opção ideológica, em nome de uma saída limpa que, confirmamos hoje, está crivada de nódoas.»
«Pedro Passos Coelho, depois de ter sido durante quatro anos no governo um exemplar Homo genuflexus, apresenta-se agora na oposição como modelo do Homo firmus e erectus na relação com Bruxelas. É verdade que para usar na lapela o verbo “social-democracia sempre” tem de apagar do cadastro as máculas neoliberais – não vale a pena negar o óbvio, aquilo que se fez no Portugal do ajustamento foi privatizar a eito, cortar despesa pública para reforço do sector privado, aumentar impostos à bruta e desregulamentar o mercado de trabalho para facilitar o capitalismo selvagem – que lhe iluminaram o caminho da governação. Mas, mesmo na retórica de campanha eleitoral, exige-se decoro. Se António Costa “ajoelhou” perante a Comissão Europeia veremos mais adiante. É verdade que a austeridade não acabou e, como diz Passos Coelho com razão, foi rebatizada, com o Orçamento a passar de austeritário a restritivo. Como já aqui disse, a austeridade de direita foi substituída pela da esquerda. De uma a outra, venha o diabo, mas esta é seguramente mais equitativa e, por isso, mais justa do ponto de vista social já que não recai sobre os rendimentos do trabalho e, pelo menos, impõe aos habituais isentos de esforço a obrigação de contribuírem para a comunidade. Mas, pelas almas, que autoridade tem o anterior primeiro-ministro para encher a boca com tais denúncias? Seguramente que nem os seus acólitos mais entusiastas se esquecem das idas regulares à chancelaria alemã para fazer provas de diligência e promessas de ir além da troika à senhora Merkel. Ou das imagens recorrentes da subserviência de Vítor Gaspar em Bruxelas perante o poderoso senhor Schäuble. Ou mesmo da exibição de Maria Luís Albuquerque em Berlim, em vésperas de eleições, como modelo de aluna bem-comportada. Ajoelhar é isto. Aceitar tudo sem questionar ou sequer tentar negociar. Aquilo que o actual governo fez foi, apesar de tudo, diferente. Negociou, cedeu como é próprio destes processos, e, como escrevia Freitas do Amaral nesta semana na Visão, conseguiu na Comissão Europeia e no Eurogrupo a aprovação de um Orçamento social e não neoliberal, o primeiro desde a criação do euro. De Passos Coelho aquilo que temos para recordar são anos a fio a genuflectir e a resignar, por opção ideológica, em nome de uma saída limpa que, confirmamos hoje, está crivada de nódoas.»
Nuno Saraiva, Editorial do Diário de Notícias de ontem (22 de Fevereiro de 2016)
Canção da Paciência
Canção da Paciência: a data do início da minha labuta de professor associada à da morte de José Afonso.
Geringonça
Estávamos nós a contar
Ai as patas às ovelhas,
A ver se faltava alguma,
Quando aquela geringonça
Ai desceu lá do alto
E poisou entre molhos de caruma.
Ai aquilo era coisa
Do outro mundo, era.
Estávamos nós a contar
Ai as patas às ovelhas,
Quando aquela geringonça
Poisou na beira da eira
Aquilo era coisa,
Aquilo era coisa
Do outro mundo.
Ao sair da geringonça
"Aquilo" entrou em nossa casa,
Atravessando as paredes
E eu sei lá, ó minha mãe.
Tudo aquilo foi assim
Sem água vai nem água vem.
Aquilo era coisa,
Aquilo era coisa
Do outro mundo.
As ovelhas assustadas
Entretanto debandando,
Debandaram pelo campo afora.
Quando aquela geringonça,
Ai subiu lá no alto,
Fez-se uma luz no céu,
Indo-se embora.
E vieram os falsos,
Cada falso trouxe um falso,
E assim o mundo se fez falso.
Políticos (cegos, surdos mudos).
Banqueiros (cegos, surdos mudos).
Filósofos (cegos, surdos mudos).
Profetas (cegos, surdos mudos).
Sábios (cegos, surdos mudos).
Deuses (cegos, surdos mudos).
(António Avelar Pinho / Nuno Rodrigues)
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Internet - Filtrar é preciso...
«A internet não selecciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é seleccionar.
(...) Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. (...) A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.
(...) Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.»
(...) Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. (...) A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.
(...) Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.»
Umberto Eco em entrevista à revista (brasileira) Época, 30 de Dezembro de 2011
Como diria a Mafalda...
Prémio World Press Photo 2015 para Mário Cruz
Mário Cruz, fotógrafo da agência Lusa, ganhou um dos prémios da World Press Photo com um portfólio sobre escravatura infantil.
Fotos aqui.
Texto de homenagem ao recém-condecorado Sousa Lara
«O nevoeiro voltou a avançar, alguma coisa estava para acontecer ainda, outra revelação, outra dor, outro remorso. Mas foi Pastor quem falou, Tenho uma proposta a fazer-te, disse, dirigindo-se a Deus, e Deus, surpreendido, Uma proposta, tu, e que proposta vem a ser essa, o tom era irónico, superior, capaz de reduzir ao silêncio qualquer que não fosse o Diabo, conhecido e familiar de longa data. Pastor fez um silêncio, como se procurasse as melhores palavras, e explicou, Ouvi com grande atenção tudo quanto foi dito nesta barca, e embora já tivesse, por minha conta, entrevisto uns clarões e umas sombras no futuro, não cuidei que os clarões fossem de fogueiras e as sombras de tanta gente morta, E isso incomoda-te, Não devia incomodar-me, uma vez que sou o Diabo, e o Diabo sempre alguma coisa aproveita da morte, e mesmo mais do que tu, pois não precisa de demonstração que o inferno sempre será mais povoado do que o céu, Então de que te queixas, Não me queixo, proponho, Propõe lá, mas depressa, que não posso ficar aqui eternamente, Tu sabes, ninguém melhor do que tu o sabe, que o Diabo também tem coração, Sim, mas fazes mau uso dele, Quero hoje fazer bom uso do coração que tenho, aceito e quero que o teu poder se alargue a todos os extremos da terra, sem que tenha de morrer tanta gente, e pois que de tudo aquilo que te desobedece e nega, dizes tu que é fruto do Mal que eu sou e ando a governar no mundo, a minha proposta é que tornes a receber-me no teu céu, perdoado dos males passados pelos que no futuro não terei de cometer, que aceites e guardes a minha obediência, como nos tempos felizes em que fui um dos teus anjos predilectos, Lúcifer me chamavas, o que a luz levava, antes que uma ambição de ser igual a ti me devorasse a alma e me fizesse rebelar contra a tua autoridade, E por que haveria eu de receber-te e perdoar-te, não me dirás, Porque se o fizeres, se usares comigo, agora, daquele mesmo perdão que no futuro prometerás tão facilmente à esquerda e à direita, então acaba-se aqui hoje o Mal, teu filho não precisará morrer, o teu reino será, não apenas esta terra de hebreus, mas o mundo inteiro, conhecido e por conhecer, e mais do que o mundo, o universo, por toda a parte o Bem governará, e eu cantarei, na última e humilde fila dos anjos que te permanecem fiéis, mais fiel então do que todos, porque arrependido, eu cantarei os teus louvores, tudo terminará como se não tivesse sido, tudo começará a ser como se dessa maneira devesse ser sempre, Lá que tens talento para enredar as almas e perdê-las, isso sabia eu, mas um discurso assim nunca te tinha ouvido, um talento oratório, uma lábia, não há dúvida, quase me convencias, Não me aceitas, não me perdoas, Não te aceito, não te perdoo, quero-te como és, e, se possível, ainda pior do que és agora, Porquê, Porque este Bem que eu sou não existiria sem esse Mal que tu és, um Bem que tivesse de existir sem ti seria inconcebível, a um tal ponto que nem eu posso imaginá-lo, enfim, se tu acabas, eu acabo, para que eu seja o Bem, é necessário que tu continues a ser o Mal, se o Diabo não vive como Diabo, Deus não vive como Deus, a morte de um seria a morte do outro, É a tua última palavra, A primeira e a última, a primeira porque foi a primeira vez que a disse, a última porque não a repetirei. Pastor encolheu os ombros e falou para Jesus, Que não se diga que o Diabo não tentou um dia a Deus,»
Sousa Lara foi um dos últimos condecorados por Cavaco Silva. A Ordem do Infante D. Henrique distingue quem presta serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro.
José Saramago, O Evangelho segundo Jesus Cristo
O homenageado foi subsecretário de Estado da Cultura entre 1991 e 1992, durante um dos governos de Cavaco Silva, coisa de que ninguém se lembraria se não tivesse vetado, então, a candidatura de José Saramago ao Prémio Literário Europeu.
Saramago é um "velho ódio de estimação" do voluntário de Belém.
Recorde-se, ainda, que Sousa Lara foi um dos envolvidos no polémico caso da Universidade Moderna, tendo chegado a ser condenado, em Novembro de 2003, por gestão danosa, falsificação de documentos e corrupção activa. Viria a ser absolvido pelo Tribunal da Relação de Lisboa, em Junho de 2004.
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Sapo de cerâmica vale urso de ouro
Ou como Leonor Teles, que não a "rainha aleivosa", ganhou um prémio no Festival de Cinema Berlim.
Leonor Teles venceu o Urso de Ouro na secção de curtas-metragens, com o filme Balada de um Batráquio.
O filme aborda o uso de sapos de cerâmica, por comerciantes, como forma de afastarem os ciganos das suas lojas, pela superstição que esta etnia (a que Leonor Teles está ligada pelo lado paterno) tem relativamente aos sapos.
Leonor Teles venceu o Urso de Ouro na secção de curtas-metragens, com o filme Balada de um Batráquio.
O filme aborda o uso de sapos de cerâmica, por comerciantes, como forma de afastarem os ciganos das suas lojas, pela superstição que esta etnia (a que Leonor Teles está ligada pelo lado paterno) tem relativamente aos sapos.
É isso aí!...
«(...)
Ou seja, em matéria de direitos sociais, a mesma Europa que não cede a Portugal uma décima no défice sem vilipendiar um governo eleito, está disposta a abdicar perante a pressão inglesa. Na economia do “ajustamento”, não há um milímetro de cedência às “regras”, nos direitos sociais, tudo é negociável. Por tudo isto, a “Europa” actual, Schäuble, Dijsselbloem, Moscovici, Dombrovskis, mais as suas cortes de funcionários zelosos, a última coisa que desejam é que possa haver qualquer mitigado sucesso de um governo que está a cometer esse crime de lesa-economia que é “reverter” salários e pensões, taxar fundos e bancos e não ao contrário.
O braço armado desta política é, hoje, em Portugal o PSD de Passos, que está convencido de que o seu regresso ao poder é a curto prazo. Passos continua a comportar-se como se fosse um Primeiro-ministro usurpado, de bandeirinha governamental na lapela, a fazer falsas inaugurações, e anda na Europa, o seu grande aliado, a instigar a fronda contra a política do governo e a falar para a as agências de rating e os mercados mostrando-lhes qual o sentido político que pode ter em Portugal uma subida de juros ou um abaixamento de rating: destruir o governo “deles”. Sempre que falam em “preocupações”, mesmo com análises falsas como as das subidas de juros há uma semana, percebe-se muito bem que mais do que preocupações são desejos.»
Ou seja, em matéria de direitos sociais, a mesma Europa que não cede a Portugal uma décima no défice sem vilipendiar um governo eleito, está disposta a abdicar perante a pressão inglesa. Na economia do “ajustamento”, não há um milímetro de cedência às “regras”, nos direitos sociais, tudo é negociável. Por tudo isto, a “Europa” actual, Schäuble, Dijsselbloem, Moscovici, Dombrovskis, mais as suas cortes de funcionários zelosos, a última coisa que desejam é que possa haver qualquer mitigado sucesso de um governo que está a cometer esse crime de lesa-economia que é “reverter” salários e pensões, taxar fundos e bancos e não ao contrário.
O braço armado desta política é, hoje, em Portugal o PSD de Passos, que está convencido de que o seu regresso ao poder é a curto prazo. Passos continua a comportar-se como se fosse um Primeiro-ministro usurpado, de bandeirinha governamental na lapela, a fazer falsas inaugurações, e anda na Europa, o seu grande aliado, a instigar a fronda contra a política do governo e a falar para a as agências de rating e os mercados mostrando-lhes qual o sentido político que pode ter em Portugal uma subida de juros ou um abaixamento de rating: destruir o governo “deles”. Sempre que falam em “preocupações”, mesmo com análises falsas como as das subidas de juros há uma semana, percebe-se muito bem que mais do que preocupações são desejos.»
José Pacheco Pereira, Público de hoje
domingo, 14 de fevereiro de 2016
Fantasma descoberto
Que grande azar!
Lembraram-se de homenagear o homem...
Devia ter um cargo muito importante, para nem darem pela sua ausência!
Ele alega que lhe tinham atribuído um cargo fantasma.
Assim se compreenderá a situação...
Amamo-nos uns aos outros, em Dia de S. Valentim
Gosto deste espírito de união da União, em que políticos afirmam que Portugal não quer ser a Grécia, que a Irlanda não quer ser Portugal, que não sei quem não quer ser a Irlanda, etc. etc. etc. É revelador do grau de coesão que se conseguiu atingir.
É uma União, de facto...
Chamar instabilidade política ao que se passa em Portugal... Como é que chama ao que se está a passar em Espanha?
Hoje é um dia "perigoso" para andar na rede social
«A nossa época parece que só sabe falar de amor. Ao mesmo tempo que se assiste a uma inflação da palavra, diminui, claramente, a sua força expressiva, como que sequestrada por um uso equívoco e sonâmbulo. Cada vez menos se sabe de que falamos quando falamos de amor. Mas isso não serve de travão.»
José Tolentino Mendonça, Nenhum Caminho será Longo
Tarkovsky - retrospectiva integral
Está já a ser exibida em Lisboa (Espaço Nimas) e no Porto TM Campo Alegre).
A minha cultura cinéfila parou por aqui, por alturas da morte de Andrei Tarkovsky (final de 1986, tinha ele apenas 54 atribulados anos e vários projectos pela frente).
Realizou "uma ínfima parte de todos os filmes que tinha dentro de si".
Escreve um dos seus biógrafos que Tarkovsky "hesitou na sua vocação", tendo estudado, entre outras áreas, pintura e música. E isso é visível e audível nos seus filmes, embora tenha dito que "o cinema deveria poder passar sem a música". Há cenas que são demoradas pinturas e a música está presente sob a forma clássica, de pequenas composições/atmosferas sonoras e, mesmo, de sons (como gotas de água, a respiração das personagens...). Há planos e fotografias inesquecíveis...
E em dias como o de hoje... um chá à chuva
A minha cultura cinéfila parou por aqui, por alturas da morte de Andrei Tarkovsky (final de 1986, tinha ele apenas 54 atribulados anos e vários projectos pela frente).
Realizou "uma ínfima parte de todos os filmes que tinha dentro de si".
Escreve um dos seus biógrafos que Tarkovsky "hesitou na sua vocação", tendo estudado, entre outras áreas, pintura e música. E isso é visível e audível nos seus filmes, embora tenha dito que "o cinema deveria poder passar sem a música". Há cenas que são demoradas pinturas e a música está presente sob a forma clássica, de pequenas composições/atmosferas sonoras e, mesmo, de sons (como gotas de água, a respiração das personagens...). Há planos e fotografias inesquecíveis...
Stalker
A infância de Ivan
Solaris
Andrei Rubliov
E em dias como o de hoje... um chá à chuva
Solaris
sábado, 13 de fevereiro de 2016
Profecias falhadas...
Parece-me que as notícias sobre a morte da rádio foram manifestamente exageradas.
É uma torneira a deitar música
"Isto abre-se, liga-se à parede..."
O Costa do Castelo
Quando "as bobines ainda estão frias (...) a onda bate na lâmpada e recua. E daí, o som quer sair e não pode. Tem de aquecer o carburador."
O Costa do Castelo
Quando "as bobines ainda estão frias (...) a onda bate na lâmpada e recua. E daí, o som quer sair e não pode. Tem de aquecer o carburador."
"Olhe, olhe, olhe!... Já está a levantar fervura!"
Dia Mundial da Rádio
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
A noite e o riso
«Mergulho em personalidade: não há qualquer escafandro receitável.»
Nuno Bragança, A noite e o riso
Nuno Bragança nasceu a 12 de Fevereiro.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Detectadas ondas gravitacionais
Dizem que as ondas gravitacionais, previstas por Einstein, foram finalmente detectadas.
(o homem antevia essas coisas, o que eu acho impressionante!)
Continuando a acreditar no que dizem, era o último desafio da Teoria da Relatividade.
Stephen Hawking afirmou que a detecção dessas ondas "abre a porta a uma nova forma de olhar o Universo" e que "a capacidade de as detectar tem o potencial de revolucionar a Astronomia",
Deve ser mesmo algo importante: "Uma das maiores descobertas científicas dos últimos 50 anos".
Um amigo compreensivo em relação à minha ignorância aconselhou-me este vídeo.
Partilho, solidariamente, com quem, como eu, seja um buraco negro sobre o assunto.
(o homem antevia essas coisas, o que eu acho impressionante!)
Continuando a acreditar no que dizem, era o último desafio da Teoria da Relatividade.
Stephen Hawking afirmou que a detecção dessas ondas "abre a porta a uma nova forma de olhar o Universo" e que "a capacidade de as detectar tem o potencial de revolucionar a Astronomia",
Deve ser mesmo algo importante: "Uma das maiores descobertas científicas dos últimos 50 anos".
Um amigo compreensivo em relação à minha ignorância aconselhou-me este vídeo.
Partilho, solidariamente, com quem, como eu, seja um buraco negro sobre o assunto.
E não podem ser engolidos por um buraco negro?
Ao ler que as ondas gravitacionais agora detectadas foram emitidas pela colisão de dois buracos negros com cerca de 30 vezes a massa do nosso Sol, a mais de mil milhões de anos-luz da terra... penso:
- Será que estes tipos não podem ser engolidos por um buraco negro? Pode ser só um buraquinho...
Cada vez que os vejo, sinto uma coisinha cá dentro...
- Será que estes tipos não podem ser engolidos por um buraco negro? Pode ser só um buraquinho...
Cada vez que os vejo, sinto uma coisinha cá dentro...
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Livrarias mesmo livrarias ameaçadas
Leio a notícia de que a "velha" Livraria Ulmeiro, na Av. do Uruguai, em Benfica, pode fechar as suas portas brevemente.
É uma notícia quase inevitável.
A lei do mercado - dos mercados - dos nossos dias não deixa grandes saídas para as antigas livrarias que, num passado que nos parece já distante - os anos 70 antes de 74 - foram espaços de cultura e de resistência à ditadura. Eram balões de oxigénio.
Os proprietários dessas livrarias eram (são) amantes de livros e sonhadores de sociedades em que a cultura é o centro à volta do qual se desenvolve uma vivência, uma forma de ser/estar, se constrói um mundo diferente.
Manter essas livrarias, como a Ulmeiro ou a Galileu (Cascais), para falar nas que conheço melhor por ficarem mais próximas das casas em que vivi ou vivo, foi um serviço público, um exercício de cidadania e de teimosia (de resiliência, como agora se diz), sempre com aquele sonho no horizonte.
As leis do dinheiro que regem os nossos dias não se compadecem com utopias, acham-nas uma coisa espúria, e são duras para com quem visiona outras realidades.
As grandes superfícies e os grupos editoriais que se organizaram e dominam o mercado impõem a lei do mais forte e estrangulam quem não se adapta ou não se quer deixar vencer pelas suas regras. A nova lei do arrendamento aperta o nó, apressando o desenlace.
Essas livrarias, que já tinham uma vertente de alfarrabista, deixam de ser verdadeiramente livrarias para passarem a ser apenas alfarrabistas (e, às vezes, antiquários), mas não sendo essa a sua vocação primeira, não tendo o negócio como fito - lembremos o amor aos livros, não o lucro que se pode fazer com eles, e o gosto pela tertúlia, espaço de convívio cultural -, os seus proprietários revelam dificuldade em "reconverterem-se" ou recusam-se a fazê-lo, por princípio ou, até, pela idade e pelo acumular de desilusões da utopia que todos os dias se desfaz.
Desejo que a Ulmeiro sobreviva - foram várias as compras que lá fiz e gosto sempre de voltar ao meio da desarrumação das pilhas dos livros, qual explorador de tesouros... - e que o Salvador possa continuar a fazer as suas sonecas entre os livros ou sobre eles.
Mas, sem querer ser agoirento, parece-me tratar-se de uma história com um fim (triste) anunciado.
Restarão, depois, as lamentações pelo sucedido e a saudade de mais um espaço de cultura transformado em memória. Uma imensa memória...
Arquitectura portuguesa com mais prémios
Três projectos de arquitectos portugueses foram eleitos Edifício do Ano 2016, numa votação do conceituado site Archdaily, uma plataforma de informação especializada em arquitectura.
O prémio é atribuído anualmente, pretendendo destacar a inovação técnica, material, espacial e social dos projectos.
Os premiados de autoria portuguesa são a Cozinha Comunitária das Terras da Costa da Caparica, na categoria Arquitectura Pública, Casa em Guimarães (categoria Remodelação) e o Cello Bar, da Madalena - ilha do Pico (categoria Arquitectura de Hospitalidade).
O prémio é atribuído anualmente, pretendendo destacar a inovação técnica, material, espacial e social dos projectos.
Os premiados de autoria portuguesa são a Cozinha Comunitária das Terras da Costa da Caparica, na categoria Arquitectura Pública, Casa em Guimarães (categoria Remodelação) e o Cello Bar, da Madalena - ilha do Pico (categoria Arquitectura de Hospitalidade).
Do Cello Bar tinha de colocar aqui (tendenciosamente) mais fotos, para se ver a ilha do Faial, lá ao fundo, e os dois rochedos - o "Deitado" e o "Em Pé", à saída da Madalena (para quem vai para a Horta).
A visita fica marcada para quando voltar aos Açores...Moda do entrudo
De soalheiro não teve nada o entrudo deste ano.
Brilhante, brilhante mesmo, do fundo da alma, só esta interpretação da Moda do Entrudo, por Janita Salomé, naquele que foi o último disco de originais de José Afonso, em 1985 - Galinhas do Mato.
Brilhante, brilhante mesmo, do fundo da alma, só esta interpretação da Moda do Entrudo, por Janita Salomé, naquele que foi o último disco de originais de José Afonso, em 1985 - Galinhas do Mato.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Esquizofrenia, bipolaridade, incongruências ou bota-abaixo
Por mil milhões de euros, "reestruturados" por imposição de Bruxelas, o Orçamento de Estado passa a ter o defeito oposto àquele que apresentava no esboço?
Não há meio termo, equilíbrio, bom senso, juízo... nestas cabeças?
O Irreal Quotidiano
«Bem. Encontrei o título: O Irreal Quotidiano. Agora, falta o livro. E o subtítulo - importantíssimo! - que apague no leitor a ideia de que se trata de mais uma confissão de sabor memorialista.
A O Mundo dos Outros, para evitar a palavra crónicas classifiquei no frontispício de Histórias e vagabundagens.
E a este? Que porei debaixo de O Irreal Quotidiano?
A primeira ideia que me veio à cabeça foi esta: Histórias e invenções. Ou Histórias secretas e invenções. Ou Histórias públicas e invenções. Com uma prevenção deste género no rosto de livro:
"A primeira classificação que me acudiu para subtítulo deste livro foi a de anti-contos e invenções. Mas mal desenhei essas palavras no papel, senti um arrepio de vómito... Eh! José Gomes Ferreira! Anti, não. Por favor, não sigas a moda. E berra comigo: abaixo o anti-isto! O anti-aquilo! O anti-nada! - que, com a franqueza perfeita que devo à minha época, já mete nojo!
Então resolvi chamar a estas prosas "histórias públicas e invenções". Que diabo! Neste momento de confusão de géneros, também me sinto no direito de trazer a minha confusãozinha à trapalhada geral com as minhas invenções.
Embora o simplificador que vive em mim no fundo opine - e com razão! - que o problema se resolveria facilmente, se eu lhes chamasse o nome que sempre lhes deram: crónicas.
Mas serão de facto crónicas? Não serão anticrónicas?
Deixo o problema aos estudiosos que, assim, poderão ficar por esta página sem necessidade de ler o resto do livro.
Este problemazinho de caca chega para justificar o número habitual de linguados da crítica!"
Ousaria publicar isto?
Com outra forma menos directa talvez.»
A O Mundo dos Outros, para evitar a palavra crónicas classifiquei no frontispício de Histórias e vagabundagens.
E a este? Que porei debaixo de O Irreal Quotidiano?
A primeira ideia que me veio à cabeça foi esta: Histórias e invenções. Ou Histórias secretas e invenções. Ou Histórias públicas e invenções. Com uma prevenção deste género no rosto de livro:
"A primeira classificação que me acudiu para subtítulo deste livro foi a de anti-contos e invenções. Mas mal desenhei essas palavras no papel, senti um arrepio de vómito... Eh! José Gomes Ferreira! Anti, não. Por favor, não sigas a moda. E berra comigo: abaixo o anti-isto! O anti-aquilo! O anti-nada! - que, com a franqueza perfeita que devo à minha época, já mete nojo!
Então resolvi chamar a estas prosas "histórias públicas e invenções". Que diabo! Neste momento de confusão de géneros, também me sinto no direito de trazer a minha confusãozinha à trapalhada geral com as minhas invenções.
Embora o simplificador que vive em mim no fundo opine - e com razão! - que o problema se resolveria facilmente, se eu lhes chamasse o nome que sempre lhes deram: crónicas.
Mas serão de facto crónicas? Não serão anticrónicas?
Deixo o problema aos estudiosos que, assim, poderão ficar por esta página sem necessidade de ler o resto do livro.
Este problemazinho de caca chega para justificar o número habitual de linguados da crítica!"
Ousaria publicar isto?
Com outra forma menos directa talvez.»
José Gomes Ferreira, Dias Comuns IV
(entrada do dia 9 de Fevereiro de 1968)
Capa da 1.ª edição (1971) |
O Irreal Quotidiano sem qualquer prevenção no rosto...
Carnavais...
Entre os muitos carnavais, os mais genuínos e... "sustentáveis".
Correspondem a um património identitário de territórios rurais, que tem vindo a ser valorizado.
Mais conhecidos e atraindo mais visitantes, pela divulgação da máscara ibérica (com desfiles anuais, em Lisboa):
Lazarim
Podence
Menos conhecido:
Lindoso
Correspondem a um património identitário de territórios rurais, que tem vindo a ser valorizado.
Mais conhecidos e atraindo mais visitantes, pela divulgação da máscara ibérica (com desfiles anuais, em Lisboa):
Lazarim
Podence
Menos conhecido:
Lindoso
O Entrudo do Pai Velho
Antigos carnavais - a figura do xexé
O xexé, uma figura do Carnaval doutros tempos.
«O xexé era a principal figura das paródias até cerca de 1910, chamavam-lhe peralta, salsa, pisa-flores. Era a caricatura da Lisboa miguelista, da cabeleira e casaca, caída em desgraça. O xexé envergava uma casaca às cores, sapato de fivela, cabeleira de estopa, punhos de renda e um imenso chapéu bicorne com uma inscrição normalmente obscena.»
Fotografia de Augusto Bobone, anterior a 1910 |
«O xexé era a principal figura das paródias até cerca de 1910, chamavam-lhe peralta, salsa, pisa-flores. Era a caricatura da Lisboa miguelista, da cabeleira e casaca, caída em desgraça. O xexé envergava uma casaca às cores, sapato de fivela, cabeleira de estopa, punhos de renda e um imenso chapéu bicorne com uma inscrição normalmente obscena.»