quinta-feira, 14 de maio de 2015

Formação de professores, provas e... Nuno Crato

Foi notícia e já foi esquecido, levado pela espuma dos dias.
As provas específicas dos professores tiveram alguns resultados confrangedores.
Faço notar que eu digo professores e o Ministério, agora, também. Há algum tempo atrás, o Ministério chamava-lhes candidatos a professores.

Não conheço o tipo de prova, o seu grau de dificuldade, a sua relação com o que é exigido em termos de leccionação.
Não sei da formação inicial dos professores que tiveram resultados negativos.
Não sei da experiência, obrigatoriamente pouca, destes professores.
Não sei como se prepararam para a prova, se é que se prepararam, se é que tiveram tempo, pois é bem possível que estejam a trabalhar... noutro ramo de actividade que não o ensino. Professores novos são o que menos há nas escolas. Pela evolução demográfica e pelo prosseguimento das políticas dos últimos governos - os dos "partidos do arco da governação" - a grande maioria terá uma remota hipótese de vir a ser professor.

Mas o Ministro da Educação, depois de algum tempo de silêncio, saídos os resultados das provas, não perdeu a oportunidade de vir celebrar a sua razão em mandar realizar estas provas, em afirmar a superioridade e a bondade das suas políticas e em lembrar a necessidade de uma boa formação dos professores, da qual o ministério não parece assumir qualquer responsabilidade. É como se não tivesse nada com isso!

Cada vez que há resultados negativos e a imagem dos professores sai denegrida, Nuno Crato explora esses resultados, mais ou menos declaradamente, mais ou menos subtilmente, para rebaixar os professores aos olhos da opinião pública.
O ministro, na linha de Maria de Lurdes Rodrigues no Governo de José Sócrates, é o exemplo do líder que, não conseguindo ou não querendo unir os que trabalham no âmbito do seu Ministério, os põe na mira fácil de uma opinião pública de crítica fácil, mas pouco formada e, por isso, manipulável. É a exploração primária dos sentimentos mais baixos que as pessoas podem ter.

Essa ideia transmitida repetidamente ajuda a fixar uma imagem.
Os soundbites que passam na comunicação social, numa forma superficial de abordagem, muitas vezes ignorante dos assuntos que trata, também ela ocupada com a espuma dos dias ou fiel à "voz do dono", sedimentam, regra geral, essa imagem.
Os comentários, as opiniões manifestadas por muitas pessoas nos vários meios de comunicação reflectem muito uma imagem negativa dos professores e do seu trabalho.
São comentários ou opiniões muitas vezes ressabiadas, que também demonstram, frequentemente, ignorância. Mas sobre educação - se for para dizer mal - todos se sentem capazes de opinar.

Os professores, como os médicos, os magistrados, os enfermeiros, e toda uma série de outros "privilegiados" - assim colocados aos olhos dos honestos cidadãos desprotegidos que não são funcionários públicos - são, ciclicamente e à vez, o mau exemplo do que existe na sociedade - os gulosos que comem o orçamento, que não fazem nada, que só pensam nas suas regalias, etc. etc. etc.
Dividir para reinar!

Não esquecendo a questão inicial - os resultados nas provas específicas dos professores com menos de 5 anos de serviço - constatando ano após ano o que considera ser as falhas da formação inicial de professores, duvidando tanto das competências dos formados, o que fez o actual Ministro da Educação relativamente à formação inicial? As instituições que fornecem essa formação inicial são do Estado ou são por ele apoiadas.
Se há uma avaliação séria do trabalho dessas instituições a provar o seu mau desempenho - a desconfiança é do Ministro (ou não haveria lugar à realização destas provas após as provas dessas instituições) - por que razão o Ministro fala de cátedra e não age?
E por que razão só fala para dividir?

Nuno Crato é um bom seguidor do seu líder.


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