domingo, 17 de maio de 2015

Com as varinas

Da alta aristocracia desceu-me o pé p'ra chinela...
No ex-Museu da Cidade, agora Museu de Lisboa (Palácio Pimenta, no Campo Grande) e no Museu Rafael Bordalo Pinheiro (do lado oposto do Campo Grande).


«Eu não sou velho e lembro-me. Ia-se por essa Lisboa fora, a qualquer hora do dia e encontrava-se um grupo de varinas. Às vezes, uma só. A canastra à cabeça ou, quando vazia, obliquada à cinta; as mãos erguidas ou fincadas nas ancas; as chinelas trepidantes nos calcanhares... - como se sabe. Como ficaram em centenas de gravuras, telas, desenhos, fotografias e naqueles versos de Cesário, de citação obrigatória: "Vêm sacudindo as ancas opulentas..."
Não é para descrevê-las que aqui estou. É para lembrar isto: Que toda a gente sentia que Lisboa era delas, das varinas! Tivessem chegado há pouco da Murtosa ou de Ílhavo, fossem de origem grega ou fenícia, isso era com os eruditos. O certo é que Lisboa, sem elas, não seria Lisboa.»
Carlos Queiroz


Rafael Bordalo Pinheiro

Stuart Carvalhais
Querubim Lapa
Almada Negreiros
Roque Gameiro

«Era tristeza imaginar o que seria Lisboa com os prédios todos pintados de amarelo, por exemplo. Nesta infantil policromia reside, por certo, um dos grandes encantos da capital. Mas sem varinas? ão é que a cidade, sem elas, perdeu bastante da sua alegria, da sua graça, do seu carácter?
Eu não sou velho - creiam - e já sinto saudades das varinas.»
Carlos Queiroz





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