quinta-feira, 2 de abril de 2015

O efeito da morte na cultura

A morte torna as pessoas que morrem em boas pessoas. Já não devem fazer mal, acredita-se, pelo que agora são boas.
As que ficam não são tão consensuais, pois têm defeitos activos. Vão ter de esperar a sua hora de passamento.
Isto é válido para as suas obras. Os vivos, de repente, confrontados com a perda, descobrem que estão em falta relativamente aos que obraram e se foram! Sentem o remorso da culpa.

Na Bertrand, hoje, o segundo lugar do top de vendas de livros era para... Passos em volta, de Herberto Hélder.
Podemos dizer que são os mercados?

A RTP deve ter pensado que era boa ideia passar, no canal 1 e no chamado horário nobre, o último filme de Manoel de Oliveira, O Velho do Restelo.
É carregar de cultura!
Enchamos a barriga de poesia e de filosofia.
Quando é preciso, passa-se do zero para os oitocentos, porque o meio termo não existe.
"Mata-se" por míngua e/ou por excesso. Não se morre da doença... morre-se da cura.
E não digam que não falaram da obra dos que agora morreram.

P.S. - A vantagem do filme é ser curto (provavelmente, foi por isso que o escolheram).


2 comentários:

  1. as pessoas de certo modo tentam recuperar o tempo perdido ?!
    boa sexta-feira santa
    Angela

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  2. Sim, admito que seja em busca do tempo perdido (ou de tempo que não foi ganho para... porque terá sido para outras coisas). Acaba por ser natural, nas nossas formas de vida.
    Acho menos natural, ou mais criticável, a acção dos meios de comunicação (sobretudo, as televisões, como, por exemplo, a propósito da morte do Manoel de Oliveira), com uma programação cultural indigente e que actuam por vagas, por excessos: enchem-nos agora de Manoel de Oliveira. E, depois, vamos voltar ao habitual e continuar desatentos ao presente, para, na próxima morte, tentar recuperar novo tempo perdido.
    Parece-me que devíamos celebrar mais a vida...
    Uma boa Páscoa

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