segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Os poetas não dispensam o almoço

«Com a aurora da poesia veio a primeira nuvem das decepções amargas do poeta, e vem a ser que, estando eu persuadido que o poeta saía do vulgar, entrava em convivência com os silfos, e ipso facto, dispensava o almoço, - enganei-me redondamente. Às nove horas e meia, quando o coração parecia ter feito monopólio da vida dos outros órgãos, começaram-me os intestinos a ressoar uma sinfonia de rugidos, que devia ser a da abertura de uma ópera séria. Fui a casa, e aquietei o motim intestinal, como os imperadores romanos aquietavam a canalha: panem, mas com manteiga, que os romanos não conheceram; o et circenses traduzi-lho em café com leite.
Consumada esta operação mixta, achei-me poeta em duplicado. Fiz um soneto excelente durante a digestão.»
Camilo Castelo Branco, Cenas da Foz




Foz Velha

Aviso do editor: «Li, como editor, e reli, como crítico, as Cenas da Foz do sr. João Júnior. Declaro que encontrei uma série de cenas, que tanto podiam ser de S. João da Foz, como de Freixo de Espada à Cinta.»  Camilo Castelo Branco


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