quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ainda o Vinho do Douro

«No lagar, sob o soalho do meu quarto, ouço correr o vinho, como numa fonte de jardim; um picante cheiro a mosto, subindo no ar, parece encher todo o vale; e, ao longe, entre as vindimadeiras, uma voz de soprano, rija, metálica, entoa uma das dolentes e arrastadas cantigas, ao mesmo tempo tristes e zombeteiras, de cima do Douro.»
Ramalho Ortigão, As Farpas




«Setembro da abundância...
Velhice que parece nova infância.
São Miguel das vindimas, Sol divino,
Negros frutos de néctar purpurino.
Ó sangue vivo em flor,
Pintando as mangas da camisa ao lavrador 
E os seus lábios que ficam a sorrir...
Lagares a ferver vermelha espuma a abrir.
E que bom cheiro a mosto.
Luz de perfume, espírito, embriaguez,
Esparso e alado gosto,
Almas de Bacanais, em sombra de palidez.»
Teixeira de Pascoaes



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