quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um fenómeno da física

... a evaporação.


No mundo da especulação e da usura, que é aquele em que vivemos, há fenómenos espantosos.
Que sustentação séria tem este sistema?


O estado poético do Banco de Portugal

O Banco de Portugal mostrou-se surpreendido com os enormes prejuízos do BES.

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Alberto Caeiro


Eram todos "gente idónea", "acima de qualquer suspeita", "coberta de valores morais e éticos"...


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Labrego!


"Porreiro, pá!"
Já que ninguém me gaba, deixem-me dizer bem de mim"

É triste ser governado por gente sem educação.

P.S. - E não acredito em almoços grátis!


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Homenagem aos mortos da Grande Guerra


Uns caíram porque não tinham pernas
Outros caíram porque foram empurrados
Outros ainda caíram porque tinham de cair
Eu cheguei atrasado como sempre
(quase duas décadas depois)
e só tive tempo para enxugar os olhos
Jorge Sousa Braga


Desenho de Sousa Lopes, pintor do Corpo Expedicionário Português que fixou "nos seus carvões, nas suas águas-fortes, os lances principais da vida dos nossos soldados em França." (André Brun, A malta das trincheiras)


A malta das trincheiras

Em ano de centenário da I Guerra Mundial, foi reeditado o conjunto de crónicas de André Brun intitulado A malta das trincheiras, com o subtítulo Migalhas da Grande Guerra: 1917-1918.

André Brun, um dos fundadores, em 1925, do que é hoje a Sociedade Portuguesa de Autores, integrou o Corpo Expedicionário Português que combateu em França e na Flandres, entre 1917 e 1918.
Capitão, comandante de um batalhão, pôde escrever in loco sobre "a nossa guerra". As suas crónicas (algumas quase "anedotas") são o resultado da sua vivência, do seu distanciamento crítico, da sua observação arguta, sentido de humor, por vezes triste, tanto quanto pode ser o sorriso.

Notável - e notavelmente actual - o texto que escreveu em Fevereiro de 1918 e que abre o livro.
«ESTA GUERRA...
... é aquela a que melhor se adapta o feitio português. Como se sabe, o oficial lusitano foi sempre, nos tempos de paz, essencialmente funcionário, e não havia razões aparentes para que deixasse de sê-lo vindo para a guerra e se as circunstâncias o permitissem. Nesta guerra de trincheiras, de guarnições fixas e de sítios certos, está nas suas sete quintas. Montou muitas repartições, arranjou muitos empregos, criou muitos chefes - distinguem-se pela pala - rodeou-os de muito adjuntos, deu-lhes muitos amanuenses e pôs-se a escrever, umas vezes à máquina, outras a lápis, o canto suplementar dos Lusíadas, que viemos compor a França, nos seguintes termos: - "Em referência à nota N.º X deste C., lembro a V. Ex.ª o disposto na alínea a) da O.S. n.º 14381 da R.E. do Q.G. do C.E.P., que altera o artigo Y da circular N.º Z.-0 contendo as instruções a que se refere a determinação dos S.A. da 7. a B.I.»



terça-feira, 22 de julho de 2014

Abaixo de Crato...

Não compreendo como é que há professores que aceitam vigiar a realização das ridículas provas de colegas.
E quem é que as corrige?



segunda-feira, 21 de julho de 2014

domingo, 20 de julho de 2014

Carlos Santana

Santana nos primórdios.
Que grande secção rítmica!...


Carlos Santana nasceu a 20 de Julho de 1947.


sábado, 19 de julho de 2014

Na viagem de regresso...

... de um dia cheio...

... o cruzamento com a o Fantasia.

P.S. - O dia foi o de 6.ª f, o post é que já foi fora de horas...


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Mandela Day

O Google lembra o Dia de Nelson Mandela, celebrado na data do seu nascimento.


E recorda, entre outras, uma frase:
"A educação é a arma mais poderosa que temos para mudar o mundo."

Por isso os últimos governos nos querem tanto controlar.


quinta-feira, 17 de julho de 2014

O pior do Crato

Não é erro ortográfico.
Não queria dizer Prior do Crato, é mesmo o pior do Crato.

Crónica de Carlos Fiolhais no Público.


Notícias ao Minuto, 11 de Janeiro de 2014

Homem de fé (ou a idade tem destas coisas)

Até acredita na ressurreição do Espírito Santo!
E deve acreditar no Pai Natal...
E na inocência dos banqueiros...
Na sua bondade...
E que nós acreditamos nele...




Pegadas de dinossauro na praia da Parede

Pensa uma pessoa que aquilo são poças e vêm agora os cientistas defender que são pegadas de dinossauro - impressões de pés e mãos de um saurópode, com mais de 100 milhões de anos.



O ministro guerrilheiro (será a costela maoísta?)

A guerrilha de Nuno Crato continua.
Teimosa e estupidamente.
É mesmo de putos!

A prova de avaliação dos conhecimentos e capacidades dos professores contratados com menos de 5 anos de serviço foi marcada em período que já pode ser de férias e com 3 dias úteis de antecedência.
Um oportunismo transparente... ou clara cobardia.

Crato na linha de M.ª de Lurdes Rodrigues.



quarta-feira, 16 de julho de 2014

Memória...

... do dia, de um ano...
Grato pela gratidão.


Mergulhar as mãos nas ondas escuras
Até que elas fossem essas mãos
Solitárias e puras
Que eu sonhei ter
Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar

Hoje mais solidárias do que solitárias (a Sophia que me desculpe).
Num mundo cada vez mais desmemoriado, des-solidário e desgrato, ainda bem que há mãos solidárias que podemos apertar.
Obrigado a quem sabe liderar.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Rembrandt



Nasceu a 15 de Julho de 1606


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Desdém pela Matemática

A melhor pontuação de sempre de Portugal nas Olimpíadas de Matemática - 33.º lugar entre 109 países.
A classificação vale o que vale, mas os 6 jovens portugueses obtiveram 2 medalhas de prata e 3 de bronze.
Um deles vai estudar Matemática para Oxford. "Em Portugal há bons cursos mas o mercado de emprego ainda mostra algum desdém em relação à Matemática."


Beijo



Klimt nasceu a 14 de Julho de 1862.


Na Alemanha...

... canoístas portugueses ganharam 5 medalhas, incluindo uma de ouro, nos campeonatos da Europa.*

Não deu em directo na televisão...
* Pensavam que ia falar do Mundial de futebol?


Lorin Maazel

O céu está a ficar cheio de grandes maestros.
Lorin Maazel morreu ontem, aos 84 anos.

Lorin Maazel foi, também, um notável violinista.
Ouçamo-lo...


"Conheci-o" na direcção do Concerto para violino de Tchaikovsky.
Ouçamos e vejamo-lo a dirigir a Bavarian Radio Symphony Orchestra:



sábado, 12 de julho de 2014

Modigliani

Amedeo Modigliani nasceu a 12 de Julho de 1884.



Uma boa noite


Echoes



(...)
And no one makes me close my eyes
So I throw the windows wide
And call to you across the sky


Pablo Neruda pelas calles de Santiago


Um holograma de Pablo Neruda percorreu locais emblemáticos de Santiago, celebrando os 110 anos do seu nascimento.

«Se estamos aqui reunidos, sinto-me contente. Penso com alegria que o que vivi e escrevi serviu para nos aproximar. Representa o primeiro dever do humanista e a tarefa fundamental da inteligência, que consiste em assegurar o conhecimento e entendimento entre todos os homens. Vale bem a pena ter lutado e cantado, vale bem a pena ter vivido, se o amor me acompanha.»
Pablo Neruda, Nasci para Nascer 


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Charlie Haden (e a sua aventura em Cascais - 1971)

Fim do dia com a notícia da morte de Charlie Haden.

O contrabaixista integrou o quarteto de Ornette Coleman, no 1.º Festival de Jazz de Cascais, em 1971.

Actuando depois de Miles Davis, Haden tomou a iniciativa de se chegar ao microfone e de dedicar o tema Song for Che aos movimentos de libertação de Angola e de Moçambique.
O público presente levantou-se e aplaudiu. Já nas bancadas se encontravam dois panos com as inscrições "Guiné Livre" e "Abaixo a guerra colonial".
O comandante da PSP de Cascais ainda chegou a mandar os organizadores pararem com o espectáculo, mas tal não se concretizou.
No final, agentes da PIDE-DGS aguardavam Charlie Haden no seu camarim. Levado para a sede daquela polícia, foi interrogado, seguindo sob escolta para casa do Adido Cultural dos EUA e daí para o aeroporto, de onde embarcou para Londres.
O Festival chegou a estar em risco de ficar pelo primeiro dia.

A notícia foi censurada

A gravação de Song for Che, que se encontrava no bolso da gabardina de Charlie Haden, escapou à demanda e foi usada em For a Free Portugal, no disco Closeness duets (1976).



A "mistura" do seu contrabaixo com a guitarra de Carlos Paredes... é que me parece que não cola muito bem (cada um por si).


quinta-feira, 10 de julho de 2014

de olhos abertos...

«Felicito-me por o mal me ter deixado a minha lucidez até ao fim; alegro-me por não ter que fazer a experiência da idade avançada, não estar destinado a conhecer esse endurecimento, essa rigidez, essa secura, essa atroz ausência de desejos. (...) Tudo está pronto: a águia encarregada de levar aos deuses a alma do imperador está de reserva para a cerimónia fúnebre. O meu mausoléu, no alto do qual se plantam neste momento os ciprestes destinados a formar em pleno céu uma pirâmide negra, ficará concluído pouco mais ou menos a tempo de se fazer para lá a trasladação das minhas cinzas ainda quentes. (...)
Almazinha, alma terna e flutuante, companheira do meu corpo, de que foste hóspede, vais descer àqueles lugares pálidos, duros e nus onde terás que renunciar aos jogos de outrora. Contemplemos juntos, um instante ainda, as praias familiares, os objectos que certamente nunca mais veremos... Procuremos entrar na morte de olhos abertos...»
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano


Adriano terá morrido na data correspondente a 10 de Julho de 138.


Dia da Independência da Argentina

A Argentina apurou-se para a final do Mundial e fez a festa em dia de feriado nacional - o Dia da Independência (9 de Julho), data em que declarou a independência relativamente à Espanha (1816).

Agora, o Papa Francisco poderá convidar Bento XVI para assistir à final* (o vice-versa parece-me mais difícil, mesmo com os alemães a sentirem-se mais confiantes).


E poderão comer uns tremoços - camarão de Espinho é luxo - e beber umas "bejecas". 
Estarão apenas a seguir o exemplo.



* - O DN já aventa essa hipótese.


Árvores protegidas

Depois de 2 anos à espera - revogou-se a lei de 1938 e não se regulamentou a nova - volta a existir legislação de protecção às árvores de interesse público.

As árvores já classificadas voltam a estar protegidas e as candidatas a uma classificação podem ver o processo concluído.
As árvores podem ser classificadas pelo seu porte, desenho, idade ou raridade.
Há árvores que são monumentos-vivos.

Oliveira de Pedras d'El Rei (Tavira), com cerca de 2200 anos.


Sobreiro - o "Assobiador" - Águas de Moura, com cerca de 230 anos.


Castanheiros em Osny, pintura de Camille Pissarro

Camille Pissarro nasceu a 10 de Julho de 1830.


Novas regras da contratação colectiva

A Assembleia da República votou as alterações ao Código do Trabalho contra as quais se manifestaram, hoje, milhares de pessoas em Lisboa.


Governo/Maioria vão fazendo o que querem.
O voluntário de Belém permite.
O Mundial e a crise do BES/GES ocupam a atenção (já nem a crise do PS).
O PS reduz-se à insignificância.
A esquerda organizada - "os do costume" - manifesta-se.
A maioria do "pessoal" vive na ignorância/encolhe os ombros e encolhe-se, aceitando a sorte que lhe calha.
O Presidente da Comissão Europeia, o novo, com nome de esquentador, atende a chamada da mulher durante a intervenção do deputado português, retira os auscultadores e diz que conhece muito bem a situação portuguesa por ter 5 vizinhos portugueses.

O respeito pelas pessoas e pelo trabalho (a sua dignidade) e outros valores democráticos... já foi!
Com os porcos!


terça-feira, 8 de julho de 2014

Mau, Set-Tum!

Como dizia a outra, "os nossos cobradores são o máximo!".


P.S. - Temos de reanalisar a participação da selecção portuguesa no Mundial à luz deste resultado. 
P.S. 2 - Volta Paulo Bento, estás perdoado!


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Um Presidente, um Governo, uma Maioria, um Banco!



Sonho de Francisco Sá Carneiro foi superado.


Vítor Bento e Paulo Mota Pinto transferiram-se e já ganham tanto como o Cristiano Ronaldo.
D. Inércia corrida do Conselho de Administração (possivelmente passará a conselheira de Estado).


O mercado da educação

A acção do Ministério da Educação no seu melhor.

Público, 5 de Julho de 2014
Diário de Notícias, 7 de Julho de 2014
Efeitos dos mercados.

Vendo ministro por dez réis de mel coado!


Marc Chagall

O Sonho

«Quando Chagall pinta, não se sabe se está dormindo ou sonhando. Deve ter um anjo na sua cabeça.»
Picasso

America Windows - secção 1
Vitrais de homenagem à independência dos Estados Unidos (bicentenário 1976)

«Quando Matisse morrer, Chagall será o único pintor que realmente entende a cor.»
Picasso

Marc Chagall nasceu a 7 de Julho de 1887, em Vitebsk (Rússia).


domingo, 6 de julho de 2014

Always the Sun (mesmo em dias de nevoeiro)

Da poesia que posso

Há uma certa maré nas coisas humanas
Espero pelo verão como por outra vida
(...)
Manhã ou tarde? primavera ou outono?
Não sei pouco me importa
Pouco me importa o quê? Não sei
(o resto vem no pessoa
Pessoa é o poeta vivo que me interessa mais)
Basta a cada dia a sua própria alegria
e é grande a alegria quando iguala o dia
Ruy Belo, Homem de palavra(s)






sábado, 5 de julho de 2014

Por uma outra política cultural

Ocupação do Museu Nacional de Arte Contemporânea, ontem.




Outra política cultural só com um Governo diferente, com gente culta, que tenha uma visão alargada do mundo, que consiga perspectivar a cultura como um sector capaz de gerar riqueza.
É muita areia...
Quem gere a área cultural no Governo é poucochinho, não consegue fazer mais, pensar mais. Nem espremido deita mais sumo.


O Espírito Santo do regime

Ou o culto do regime ao Espírito Santo.


Vítor Bento, conselheiro de Estado indicado por Cavaco Silva, mais Mota Pinto, dirigente do PSD, ligado aos serviços de informação...
E João Moreira Rato, chamado, em 2012, por Vítor Gaspar, para presidente do IGCP - dirigindo a emissão da dívida pública e o regresso de Portugal aos mercados. Passou pelo Lehman Brothers (o tal falido de grande qualidade), pelo Government Goldman Sachs, o Deus Financeiro que coloca os seus nos lugares-chave para controlar o rumo do capitalismo da economia global, e pelo Morgan Stanley
Currículo não falta!... 

Resta-nos rezar, ao Divino Espírito Santo, que mais ninguém se tenha esquecido do que fez a largos milhões, que mais ninguém se esqueça de declarar uns milhões ao fisco, que os buracos do banco não se transformem em dívida nossa. 
E que mais ninguém moralmente superior insistir na cantiga que vivemos acima das nossas possibilidades (até porque há os "trabalhadores" que nem se lembram dos milhões que têm...)

Maio de 2013


O Culto do Espírito Santo

Os açorianos são dos poucos que parecem celebrar o Espírito Santo.




sexta-feira, 4 de julho de 2014

Cidade da Horta

A Horta foi elevada à categoria de cidade em 4 de Julho de 1833.
Foi o reconhecimento, por D. Pedro IV, da adesão da ilha do Faial à causa do liberalismo, depois do Conde de Vila Flor, partindo da ilha do Pico, ter atravessado o canal até à Praia do Almoxarife e corrido com as forças absolutistas, em 1831.

Horta vista do mar (1997)
«Cerca das três horas da tarde, lançámos ferro ao fundo na baía da Horta. Terminada a barulhenta manobra e ferradas as velas, veio de terra um barco verificar se havia doenças ou tabaco a bordo e dar-nos licença de desembarque. Enquanto isso se fazia, íamos observando a cidade da Horta (há pouco elevada por D. Pedro a esta categoria), cujo aspecto é o que melhor impressão deixa, de entre outras cidades ou vilas açorianas que visitáramos. A sua situação não podia ser melhor, tanto sob o ponto de vista comercial, como no que concerne à sua beleza natural. (...) A cidade está edificada junto à praia, estendendo-se ao longo da baía larga linha de casas brancas sem chaminés, sobressaindo de entre elas igrejas, conventos e edifícios públicos.»
Joseph Bullar, médico inglês (1839)
in Maria Filomena Mónica, Os Dabney, uma família americana nos Açores



Horta vista do Monte da Espalamaca (1996)
«Já vejo a Horta ao fundo da baía limitada por dois morros, o Monte Queimado numa extremidade e na outra o Monte da Espalamaca. É uma cidade de uma só rua, como eles dizem, a branco e cinzento. Alguns conventos, algumas igrejas pesadas, velhas e simpáticas casas de província com varandas de madeira e reixas: às vezes na varanda um postiguinho para a mulher falar ao namoro acocorada no chão. - Cheguei-me ao ralo - dizem as meninas.»
Raul Brandão, As ilhas desconhecidas (1926)


Não sejamos bananas!

Nas últimas semanas, não tem sido fácil encontrar boas bananas à venda.
Da coca desconheço a qualidade.


Não sei se o valor atribuído à cocaína encontrada junto às bananas conta para o PIB ou não, uma vez que deverá ser incinerada, não entrando no mercado.
O INE anda a fazer cálculos sobre o peso das actividades ilegais que podem interessar para o PIB... Ainda se arranjavam uns negociozinhos... disfarçadamente, numas quermesses, como quem não quermesse a coisa...
11 milhões de euros! Vale mais do que as bananas.
Se o negócio das bananas conta...



4 de Julho

1776, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Declaração de Independência das 13 colónias americanas do império britânico.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América - o direito de revolução.




quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sophia no Panteão - Nestes últimos tempos

Sophia de Mello Breyner Andresen já estava no Panteão, antes ainda de ir para o Panteão (Nacional).
Sophia faz parte do conjunto de homens e mulheres notáveis - encontra-se no Templo que lhes é consagrado.
O exemplo da sua vida e o valor da sua obra poética são absolutos (e poética é toda a sua obra, mesmo a prosa e os textos infanto-juvenis).
As cerimónias de hoje têm um valor relativo. Não são a verdade.

Poderá parecer sectarismo (e sê-lo-á, talvez*), mas ouvir Cavaco Silva discursar sobre a poeta é artificial, ver Passos Coelho (e não só) na assistência é deprimente - disgusting. A sua relação com o exemplo e com os valores de Sophia de Mello Breyner é... zero. Estas personagens... não grudam. Estava lá gente para ser vista, a cumprir a obrigação de estar presente.
A unanimidade em torno de Sophia é supérflua.
Sophia considerava que os artistas, os poetas conseguem "apreender na natureza, nos elementos, o elo primordial que une o Homem ao Universo". Quem nos governa só consegue apreender o elo que nos liga ao capital.

Sophia de Mello Breyner Andresen não foi só a poeta - que detestava a palavra poetisa - foi uma defensora, durante o Estado Novo, da liberdade em Portugal. Assumiu abertamente a sua posição, candidatou-se pela CEUD às eleições legislativas de 1969, participou em vigílias contra a guerra colonial, associando-se aos grupos católicos progressistas que se destacavam na época.
O acto de maior simbolismo, hoje, foi a missa celebrada na Capela do Rato, lugar central da acção desses grupos.

Num discurso proferido na campanha de 1969, afirmou "Aos pobres de Portugal é costume dizer 'Tenham paciência'. Mas na verdade devemos dizer: 'Não tenham paciência'. Devemos pedir ao povo português que procure o caminho de uma 'impaciência pacífica', que se exprima e combata sem violência mas com teimosia e firmeza."

Quebrando a unanimidade, lembremos o poema Nestes últimos tempos, de Julho de 1976.

Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças

Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?

Que diremos do lixo do seu luxo - de seu
Viscoso gozo da nata da vida - que diremos
Da sua feroz ganância e fria possessão?

Que diremos da sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?

Que diremos das máscaras álibis e pretextos
Das suas fintas labirintos e contextos?

Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?
O Nome das Coisas

Chamou as coisas pelo seu nome.

Vídeo de depoimentos à Societé Suisse de Radiodiffusion et Télévision e Office National de Radiodiffusion Télévision Française (Outubro de 1968, ainda não passara um mês do governo de Marcelo Caetano):




Poema de Sophia de Mello Breyner (1958) cantado por Francisco Fanhais



Proponho que no Panteão Nacional, (também porque está bem acompanhada por mestre Aquilino), se instale uma biblioteca dos grandes escritores portugueses. Passaria a ser um bom espaço de leitura.
E já agora... que nos permitissem que fôssemos ler para o terraço, com aquela vista monumental do Tejo, aquele Tejo que corre em poemas de Sophia.




* Também é sectarismo Cavaco Silva ignorar José Saramago.
Tenho curiosidade em saber o que sentiu Miguel Sousa Tavares, quando ouviu Cavaco Silva elogiar a sua mãe.