domingo, 15 de junho de 2014

Despedimento de jornalistas

A Controlinveste, grupo de comunicação social que detém o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, O Jogo e a TSF, vai despedir 140 trabalhadores e "negociar a saída de mais 20". Significará que os despedimentos não são negociáveis.
Motivo: a acentuada quebra de receitas do sector.
Objectivos: reduzir os custos para garantir a sustentabilidade do negócio - a administração da Controlinveste pretende cortar 6 milhões de euros na massa salarial e um valor aproximado noutros custos.
De todos os títulos, só o JN apresenta um saldo positivo, o que não impede que 17 dos seus jornalistas e 3 outros trabalhadores sejam também despedidos.

Vem-se questionando cada vez mais a sustentabilidade/sobrevivência dos meios de comunicação social em suporte papel.
O acesso à informação pelas vias electrónicas/digitais generalizou-se, sendo que o custo destes acessos está englobado em "pacotes" que lhe minimizam o preço.
A rádio, pelos vistos, também já não atrai novos ouvintes, pelo menos nos canais com serviços de informação.
A crise do jornalismo junta-se à crise geral que vivemos e esta agrava a primeira. Com rendimentos diminuídos, menos pessoas compram jornais - eu já raramente os compro. E os títulos de referência são os mais atingidos, porque são os seus ex-leitores que conseguem aceder à informação por outros meios - a nossa "poupança obrigatória" contribui para a crise dos jornais. Penso que jornais como o Correio da Manhã não serão tão atingidos pela crise, uma vez que os seus leitores não recorrerão tanto a outras fontes de informação alternativa. Preconceito meu? Seria interessante um estudo sociológico da leitura dos jornais... os títulos que são lidos nos cafés, nos barbeiros, nas tascas, para além dos jornais desportivos...

Ao despedir trabalhadores, a Controlinveste conseguirá reduzir custos mas, sem a colaboração de fotojornalistas, de jornalistas e de colunistas de qualidade, não vai atrair novos leitores ou novos ouvintes e poderá, até, perder os que ainda tem. O resultado deverá ser uma espiral recessiva que vai pôr os seus meios de comunicação numa crise ainda maior.
Poderão despedir até fecharem as portas.

O que pensaria Eduardo
Coelho, um dos fundadores
do DN, sobre o estado
da imprensa?
É preocupante que o mundo da comunicação perca nomes credíveis, que a própria informação fique em causa, porque o que se publica em papel continua a ter uma fiabilidade maior (pela sua responsabilidade) do que o que é editado digitalmente, onde as águas são muito turvas e o espaço de opinião, podendo ser aberto pelo seu fácil acesso, nem sempre tem bases fiáveis de informação. A net não tem um selo de garantia que é dado por títulos como o DN, que este ano comemora os 150 anos.
Apesar de todas as críticas de que a actual comunicação social possa ser merecedora em várias situações, sem ela em pleno funcionamento é a própria vida democrática que fica empobrecida e, mesmo, em risco.

Ferreira Fernandes, cronista no DN, escrevia há dois meses:
«Os angolanos compraram o meu jornal e tenho medo. Medo igual ao de andar de avião: o de um dia não poder andar de avião. Tenho medo de os angolanos terem comprado o DN, sublinharem a palavra "lusofonia" mas, depois, Não voarem... Ficarem-se pelo comércio costeiro (...) Isso, coisas financeiras, é importante? (...)»

Sim. Muito importante.


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