domingo, 20 de abril de 2014

Miró, mirones



«Há muito que, para os mirones, Miró estava na moda e, cumulado de homenagens e honrarias, diga-se que bem as mereceu.
Miró passou pela vida (...) como um inocente. Havia nele a atitude do rapazinho que lança ao ar passarinhos de papel e fica, extasiado, a seguir-lhes o voo. Salvo erro, foi ele quem disse que a arte moderna havia começado nas grutas de Altamira. Era um primitivo, não um naïf. Procurava o essencial ou, melhor, o essencial saía-lhe das mãos como que por milagre. O essencial da cor, do desenho, da escrita. Porque Miró foi um dos pintores/escultores que, pintando ou esculpindo, mais escreveu. E que escreveu ele? Que tudo pode ser promovido, por toques de mágica, à categoria de objecto de arte, que nada é canónico, que arte e vida estão de tal modo entrosadas que é impossível saber onde acaba uma e começa a outra. A sua imaginação nem era imaginação, era um ritual de homenagem ao mundo maravilhoso que o rodeava.
Quando lhe perguntaram (um mirone, claro) "Você é partidário da arte pela arte ou prefere a definição utilitarista de Belinsky de que a arte é só um meio para usar como instrumento de mentalização do povo? Que incidência tem a política na sua obra? A arte deve ser para o povo?", Miró, a esse mirone, respondeu da única maneira que lhe era possível: "Tudo isso são questões acidentais. O que interessa é a formação de um homem novo." E, com esta resposta, dava, ao mesmo tempo, o que era a arte/vida para ele e fechava a porta às consabidas especulações sobre para onde se deve "orientar" a arte. E para "a formação de um homem novo" Miró, pese embora aos mirones, deu um contributo inestimável.
É que ele sabia, como ninguém, que o homem é filho do menino.»
Alexandre O'Neill, Uma coisa em forma de assim

Miró, um artista de quem tanto se tem falado em Portugal - o nosso elevado nível cultural!... - nasceu a 20 de Abril de 1893, em Barcelona.

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