terça-feira, 31 de dezembro de 2013

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ver Almada


Comemoraram-se 120 anos do nascimento de Almada Negreiros e, simultaneamente, 100 anos da sua primeira exposição individual, nos salões da Escola Internacional de Lisboa.


Almada - one man show (expressão de Fernando Cabral Martins) - desenhador, caricaturista, pintor, poeta, bailarino, conferencista, dramaturgo, romancista, ensaísta, crítico de arte... Multiplicador (ou desmultiplicador) de criação artística nos seus vários níveis.
O sentido crítico mordaz e a criatividade permanente constituem a unidade dessa obra multifacetada.

Artista "Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça!"



A Árvore

Em 2013, cumpriu meio de século de vida A Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas, fundada na cidade do Porto por um grupo de artistas plásticos que pretendiam criar melhores condições para a produção e difusão cultural.
Símbolo da criação artística independente, a cooperativa cultural nasceu numa época e num meio em que a criação livre era difícil.

Com a sede localizada num antigo edifício junto ao Passeio das Virtudes, tem já uma longa e preciosa história de promoção de variadas acções culturais e de revelação de valores artísticos. Favoreceu, ainda, o debate cultural, o contacto dos artistas com o público e o diálogo entre diferentes gerações de intelectuais e tendências artísticas.

No Verão, tive oportunidade de visitar, na Biblioteca Almeida Garrett (jardim do Palácio de Cristal - Porto), uma das exposições com que a cooperativa tem comemorado o seu 50.º aniversário.







As festividades prolongam-se até Maio.


Estradas da Islândia

Decididamente os islandeses desconhecem a obra de Fontes Pereira de Melo e questionam a política de obras públicas do Eng. Ferreira do Amaral nos governos do Prof. Cavaco Silva.

Islândia não termina estrada para não destruir habitat dos elfos | iOnline

Auto-estradas têm uma, entre o aeroporto principal e a capital.
Estrada, estrada verdadeira, daquelas com piso de alcatrão, têm uma, circular, que dá volta à ilha e só foi concluída há relativamente poucos anos. Os degelos dos glaciares, alguma lava (quando é caso disso), vão levando a estrada à frente, pelo que esta e os seus viadutos têm  um carácter provisório.
Eles conhecem bem a natureza do terreno em que vivem. E convivem bem com ela. É de sua natureza...

A notícia dirá respeito à reconstrução de um percurso dessa estrada circular. Digo eu...
Deixo as minhas recordações das estradas islandesas (com mais ou menos alcatrão...).
Façam favor de a(s) percorrer!













Viaduto

Rio (resultante do degelo) que tudo arrasta

Peça vestígio de um viaduto
(junto, uma mesinha para piquenique)
A crença na existência dos elfos pode parecer bizarra, mas na Islândia - e só na Islândia! - eu acredito que possam existir.
Como 62% dos islandeses.
Os islandeses são pessoas para isso e para muito mais.


domingo, 29 de dezembro de 2013

Ingenuidades... e canibalismos


Reparem no ar deste louva-a-deus vítima próxima de canibalismo...


Todos gostamos de deixar a nossa marca


No fundo, no fundo do seu coração fígado, ele terá achado que fez uma obra de arte.  


Alves Redol - o rio como metáfora?

«Um dia virá (...) em que o Tejo será racionalmente utilizado (...) Então será um rio de libertação. Então será a nova via que abrirá Portugal ao mundo e que dará ao mundo mais riquezas. E o homem e o rio em conjunto, como dois bons companheiros de estrada, farão um novo romance, o romance de uma época nova, porque o destino de um povo vive no seu sangue e o coração do povo conserva a sua fá na vida e nos destinos do homem. E o povo português tem confiança: ele sabe que merece, - e bem o merece, - tornar-se um povo feliz.»
Alves Redol, conferência pronunciada em Paris, na sede da 
Union Française Universitaire, que editou o texto - Le Roman de Tage - em 1946.

Alves Redol nasceu a 29 de Dezembro de 1911.
O optimismo do seu texto seria o efeito da vitória recente dos Aliados e a crença no fim rápido da ditadura em Portugal.

Mas no início da década de 1960, ainda esta sua mensagem destinada aos jovens seria censurada.

O problema devia ser "estarmos atrasados".

Continuamos hoje com esperanças de sermos um "belo país europeu". Mas como vem hoje no Público on-line, "Num país onde não se sonha, emigrar é natural". O país esvazia-se, de gente nova qualificada e, logo, de sonhos.
Para podermos ser um "belo país europeu" e podermos sonhar - e para merecermos ser um povo feliz - importa saber escolher quem nos governa. E importa não nos demitirmos da nossa acção cívica - não são os outros que vão resolver os nossos problemas.
Importa que saibamos ser rio.
Alves Redol sabia e era um optimista.


João Domingos Bomtempo (e o arco da rua Augusta e a estátua de D. José)

Domingos Bomtempo faria anos ontem, mas hoje é que o tempo está de Sol.
Nasceu em Lisboa, em 1775, reinava D. José I, cuja estátua foi inaugurada naquele ano. Governava o já marquês, Sebastião José de Carvalho e Melo.

Nessa data ainda o arco triunfal da Rua Augusta/Terreiro do Paço não estava construído. Concebido arquitectonicamente no tempo de Pombal, só no governo de Costa Cabral (1843) foi posto a concurso, para só 20 anos depois ser executado e, em 1873, ser rematado.
Mesmo assim, o arco ficou inacabado relativamente ao projecto inicial.
Uma das estátuas que se recortam no arco é a do Marquês.

Mais sorte teve a estátua de D. José I, da autoria (não total) de Machado de Castro - o primeiro desenho para a obra é de Eugénio dos Santos.
As peripécias da construção daquela que foi a primeira estátua equestre do país também não foram poucas, até à sua inauguração, cerca de ano e meio antes da morte do rei, o qual, em dia de aniversário (6 de Junho), só assistiria a essa inauguração de uma das janelas da praça. O Marquês presidiu a essa cerimónia (tinha de ser!...) e o próprio Machado de Castro, confundido com um "pobretanas" foi corrido do local.


Domingos Bomtempo teve a sua vida de compositor dificultada pelas lutas liberais. Partidário das ideias liberais, chegou a viver refugiado no consulado da Rússia em Portugal. 
O primeiro concerto para piano foi composto no primeiro período em que viveu em Paris (1801 - 1810). 



P.S. - Do arco e da estátua lembrei-me pela imagem do vídeo e por ter visto ontem a fotografia no fb de Marina Tavares Dias, Lisboa Desaparecida


Rubens, Brueghel, Lorrain - A Paisagem Nórdica do Museu do Prado


No Museu de Arte Antiga, um conjunto de cerca de 60 pinturas de grandes mestres do século XVII, do centro da Europa, nomeadamente Brueghel, Rubens e Lorrain, representando paisagens.
São obras que pertencem ao Museu do Prado (Madrid) mas que agora são possíveis de ver em Lisboa, até 30 de Março, organizadas em 8 pequenos núcleos temáticos: A montanha; A vida no campo; Paisagem de gelo e neve; O bosque; Rubens e a paisagem; No jardim do palácio / paisagens exóticas, terras longínquas; Paisagens de água; Na Itália pintam a luz.

Jan Brueghel, o Velho, e Joos de Momper, o Jovem - Mercado e lavadouro na Flandres

Peeter Snayers - Cerco de Aire-sur-la-Lys

Jan Brueghel, o Velho, e Joos de Momper, o Jovem -
A Infanta Isabel Clara Eugénia no Parque de Mariemont

Consegui avistar as paisagens, mesmo no meio de uma floresta de cabeças e de corpos.
Parece que meio mundo resolveu ir hoje ao MNAA, mesmo com as entradas a 6 €. Será o espírito de Natal que chegou à arte.



P.S. - O título da exposição é geograficamente enganador: Nórdico, na Europa, é o que se refere aos países escandinavos, à Islândia e à Finlândia. A grande maioria dos artistas expostos são do centro da Europa e as suas pinturas dizem respeito, maioritariamente, às paisagens das regiões de que são naturais, quer sejam retratos da realidade quer sejam efabulações (em que a paisagem conhecida - física e social - não deixa de estar presente).


Coleccionador de absurdos

Ao fim de algum tempo e de alguns esforços, acrescentei mais um livro José Gomes Ferreira na minha estante. Encontrei uma 1.ª edição nas bancas de rua junto à Bertrand.

Falta-me a Calçada do Sol...


sábado, 28 de dezembro de 2013

A primeira sessão de cinema

Foi a 28 de Dezembro de 1895 que os irmãos Lumiére promoveram, nas caves do Grand Café de Paris, a primeira sessão de cinema.



Ilusão, sedução...

v

... como em Barry Lindon...
(com uma sedutora música de Schubert)


Jantar de Natal - 9.º 8

É um lugar já comum: sempre que nos encontramos é como se fosse Dia de Natal.

É estranho diferente o reencontro, pela quantidade de crianças que já se sentam à volta da mesa.
E de fora ficaram a Juliana, a Lara, o Jaime, os Davides, a Maria...
Para o ano haverá um Fausto.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O circo desce à cidade

Tradicionalmente, o Natal é tempo de circo.



Na foto, dois dançarinos de flamenco (como disse um amigo)


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

No princípio era a Música

Evangelho segundo S. João... Sebastião Bach



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A ceia de Natal

«Veio oportunamente em seu auxílio Ângelo, que, tendo feito uma digressão pela sala do refeitório, voltou com a alegre nova de que a ceia estava na mesa.
O anúncio foi recebido com aparente entusiasmo. Suspenderam-se trabalhos, quase completos, ultimaram-se à pressa outros, e a companhia dirigiu-se para o corredor.
Pouco depois de Ângelo, chegou D. Vitória, desmentindo-o e pretendendo suster a corrente, que ameaçava invadir a sala, que ela ainda não dera por pronta. Já não era tempo. O conselheiro, tomando duas crianças ao colo, rompia a marcha e atrás dele até a pacífica D. Doroteia clamava insubordinada que não recuaria um passo.
E falando e rindo assim entraram na sala.
Estava ofuscante de luzes, esplêndida de louças e baixelas, enfeitada de flores e de cristais e enevoada dos vapores das iguarias.
Houve um grande rumor de cadeiras arrastadas, uma confusão e incoerência de ordens de D. Vitória para marcar lugares, infracções destas ordens, que a impacientavam como se com isso pudesse perigar a ordem natural e social do mundo, e, como justa consequência, caía sobre as cabeças dos criados uma enfiada de recriminações, que eles por hábito já sofriam com exemplar paciência.
Restabelecida enfim a ordem, procedeu-se à ceia.
Ceia de Natal!»


Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais


Na cozinha da Morgadinha

Preparando a ceia de Natal...

«A cozinha do Mosteiro era uma digna cozinha de frades. Ocupava um vasto recinto rectangular, rasgado em amplas janelas e fornecido de bancas monumentais, condizendo com a estupenda chaminé, que parecia ainda saudosa dos odoríferos vapores que outrora espalhavam os tachos e as grelhas monásticas.
Ia indizível animação, quando Henrique aí entrou com o pai de Madalena. Era um barafustar de criadas, um chiar de sertãs, um borbulhar de caçarolas e tachos, um tinir de pratos, um tilintar de cristais no meio de uma babel de ordens, de perguntas, de reclamações, de conselhos, todos atinentes a negócios culinários. E D. Vitória ralhava, e a Sr.ª de Alvapenha promulgava preceitos, e Maria de Jesus desdenhava do serviço das colegas, e Madalena e Cristina riam de todos e de tudo, e Ângelo a todos impacientava.
Não se imagina!
A chegada do conselheiro e do seu hóspede veio exacerbar a desordem. Ergueram-se risos e exclamações, as quais ainda assim eram subjugadas pelos reparos e censuras de D. Vitória, a qual dizia para o conselheiro:
- Sempre o mano tem coisas! Olhem agora para o que lhe havia de dar! Vão lá para dentro, vão. Não venham atrapalhar-nos mais ainda do que estamos. E o primo Henrique também! Ora esta!...
- Não se aflija, mana. Nós não podíamos resignar-nos a ficar alheios à tarefa principal do dia. E até porque é necessário dar andamento a isto para chegarmos a tempo da missa do galo.
(...)
- Vamos lá Sr. Henrique - tornou o conselheiro - aceite-me alguns preceitos de prática. A regra é fazer tudo o mais indigesto possível; porque essa qualidade é o característico dos manjares desta noite.»


Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

domingo, 22 de dezembro de 2013

Há gastos e extras gastos...



Há cortes que são difíceis!...
Quais serão? Deixem-me adivinhar!...




Coro do Teatro Nacional de São Carlos - 70 anos

E porque falei do Teatro Nacional de São Carlos, a propósito de Puccini e de Maria Callas...


Flash mob no Aeroporto de Lisboa, às 12h07 de 19 de dezembro de 2013, a assinalar o início das comemorações dos 70 anos do Coro do Teatro Nacional de São Carlos - interpretação de um excerto de «Il Trovatore» ['Vedi! Le fosche notturne spoglie'], ópera de Giuseppe Verdi.

Parabéns!

Divirtam-se com o vídeo.


Puccini - Un bel dì vedremo

Giacomo Puccini nasceu a 22 de Dezembro de 1858, em Lucca.

Da sua criação musical destacam-se as óperas.


Madame Butterfly (estreada em 1904), de onde consta esta conhecidíssima ária, terá sido o seu último grande sucesso.
Un bel dì vedremo é a ária da ilusão: Butterfly sonha que Pinkerton virá para si. Acredita que um belo dia verá um fio de fumo elevar-se do horizonte do mar e um navio aparecerá, trazendo o seu amado. 

A gravação de Maria Callas deve ser de 1955 (com a orquestra do La Scala dirigida por Herbert von Karajan). 
Descobri há poucos dias que tenho um e.p. com esta ária... autografado pela própria Callas! Com os vinis de 45 rotações arrumados num canto do armário, tinha-me escapado que a assinatura que consta na capa é de Maria Callas. Isto é que é distracção!
Provavelmente, o primeiro dono do disco, que terá sido editado em 1956, conseguiu o autógrafo quando da vinda da cantora a Portugal, em Março de 1958, altura em que actuou no Teatro Nacional de São Carlos. 



sábado, 21 de dezembro de 2013

O solstício de Inverno - e o Natal - como renascimento

«Nascemos como esboço - É preciso sempre renascer. Nascemos para renascer.»
Pablo Neruda

Farol de Felgueiras (Foz do Douro)
Fotografia de Veselin Malinov (editada na National Geographic)

«Canta y golpea el mar, no está de acuerdo. No lo amarren. No lo encierren. Aún está naciendo. Estalla el agua en la piedra y se abren por vez primera sus infinitos ojos. Pero se cierran otra vez, no para morir, sino para seguir naciendo.»
Pablo Neruda


Diagrama das estações

Rodam as estações.
Inverno ao alto.

Ilustração da primeira metade do século XIV

Sol estício

Foi um diazinho jeitoso.
Pequenino, para não estar acima das nossas possibilidades.


                   Natal

Solstício de inverno.
Aqui estou novamente a festejá-lo
À fogueira dos meus antepassados
Das cavernas.
Neva-me na lembrança.
E sonho a primavera
Florida nos sentidos.
Consciente da fera
Que nesses tempos idos
Também era,
Imagino um segundo nascimento
Sobrenatural
Da minha humanidade.
Na humildade
Dum presépio ideal,
Emblematizo essa virtualidade.
E chamo-lhe Natal.
                                 Miguel Torga, Diário XIV
                                            25 de Dezembro de 1982


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O vazio da falta de um café e de dois dedos de conversa

José Rodrigues Miguéis queixava-se da sua pouca sorte com barbeiros, o primeiro dos quais - o que lhe cortou o cabelo aos 6 anos - morreu no Terreiro do Paço, na sequência de uma bala perdida no atentado ao rei D. Carlos, quando gritava um "Viva o Rei".*

Eu ando com pouca sorte aos cafés.
No terminal fluvial do Seixal, a D. Amélia fechou em Abril o cafezinho que tinha no quiosque.
Reaberto no Verão com o nome de Cantinho da Tina, fechou na semana passada, na 6.ª feira, dia 13 (dia que parece de azar).
Há o bar nos barcos, há o bar no interior da estação, mas que não tem as mesmas valências - é de passagem.
No quiosque era um 2 em 1 3 em 1: um café e dois dedos de conversa, com direito a cadeira e mesa ao Sol, quando ele queria aparecer.
Em ambos os casos - Sol ou céu nublado - seguia mais quentinho no caminho para a escola. Mais quentinho e desperto, no corpo e na alma.
Agora há um vazio - a margem Sul parece-me um deserto à chegada -, já nem apetece tanto a caminhada até ao centro do Seixal.

Também a partir de Janeiro, aquilo que ganhamos mal vai dar para estes excessos, como beber um café fora de casa.
Nada de vivermos acima das possibilidades que "eles" nos impõem!...

Para a Cristina C. (e para o Miguel) felicidades na nova fase da vida que se lhes abre.

* Pouca sorte com barbeiros, em Léah e outras histórias


Paul Klee

O meu amigo Paul Klee nasceu a 18 de Dezembro de 1879, perto de Berna.

Paul Klee, Nascer da Lua
(Mondaufgang von St. Germain, dizem...)

"A arte não produz o que vemos. Ela ensina-nos a ver."
Paul Klee