domingo, 27 de outubro de 2013

Leitura em movimento

«Durante muitos anos, as minhas leituras fizeram-se em andamento. De manhã - a caminho da faculdade (ou mais tarde, a caminho do jornal onde comecei a trabalhar) - passava do autocarro para o cacilheiro, depois ia a pé pela Rua da Prata e descia para o metro na Praça da Figueira. À tarde, o percurso inverso: metro, caminhada até ao Terreiro do Paço, barco para Cacilhas, autocarro. No total, entre as duas e as três horas diárias em transportes, dependendo dos períodos de espera. Para muitos dos outros passageiros, aquilo era um inferno. Para mim, o paraíso.»
José Mário Silva, Ler n.º 128, Outubro de 2013

Aqui está outra alma gémea.
JGF era um desencartado, JMS era um leitor em movimento.
Ser desencartado obriga-me a recorrer aos transportes públicos no caminho quotidiano para a "aldeia" onde trabalho e a maior delícia, ou uma das maiores, é ter tempo para ler, coisa de que muitas pessoas se queixam... de não ter.
As outras delícias são poder olhar o mar e o rio, conforme vou no comboio ou no cacilheiro e ir pensando.

Já li no metro, nos autocarros da Carris ou nos das carreiras para os arredores de Lisboa - recordo-me bem de ler Sinais de Fogo e Memorial do Convento nas viagens entre Lisboa e Setúbal.
Desta forma, leio incomparavelmente mais durante o período de trabalho do que no de férias.

Já afirmei por aqui que um critério objectivo para considerar como muito bom um livro é, quando da sua leitura em movimento, deixar passar a paragem ou a estação em que devo sair. Já me aconteceu várias vezes.

Outro bom sinal foi, ainda há relativamente pouco tempo, ser interrompido na leitura de um livro pelo condutor do autocarro, em Cacilhas. Já todos os passageiros tinham saído no final da viagem e eu continuava absorvido na leitura, sentado num dos bancos de trás.
Bem se riu o homem, eu não sei bem...



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