segunda-feira, 27 de maio de 2013

Recordar Mestre Aquilino

Ex-libris de Aquilino Ribeiro
Abrir um espaço no meu serão trabalhoso para recordar o "obreiro das letras" Aquilino Ribeiro.
50 anos depois da sua morte, 100 anos depois do início da produção ficcionista do Mestre.
Um Mestre difícil para os nossos dias, pela sua riqueza lexical, cada vez mais incompreendida, e pelo desaparecimento do mundo em que a sua obra tem raízes. Um erudito com os pés (e a alma) na terra.
Militante cívico, entre muitas acções foi fundador da Sociedade Portuguesa de Escritores e seu presidente (1956)

«O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão. O estarim parecia deserto. Não senhor, alguém dormia meio encurvado, cabeça para fora do seu decúbito, que se agitou molemente. Voltou a soprar. Buliu-lhe a veste, deu mesmo um estalido em sua tela semi-rígida e imobilizou-se. Outro sopro. Desta vez o pinhão, como um pretinho da Guiné de tanga a esvoaçar, liberou-se da cela e pulou no espaço. Que pára-quedista!
Precipitado tão de alto do pinheiro solitário, balançou-se um instante e ensaiou um voo oblíquo. A meio caminho volteou, rodopiou, viu as nuvens ao largo, a terra em baixo e, saracoteando a fralda, desceu em espiral. Poisou em cima duma fraga, ligeiro como um tira-olhos. Mas novo pé-de-vento atirou com ele para a banda, quase de escantilhão, e a aleta, tomando-se de imprevisto fôlego, arrebatou-o para mais longe. Foi cair numa mancheia de terra, removida de fresco pelos roçadores do mato, e ali permaneceu à espera que pancada de água ou calcanhar de homem o mergulhasse no solo, dado que um pombo bravo o não avistasse e engolisse.»
Abertura de A Casa Grande de Romarigães

Tanto para dizer da simples queda de um pinhão (e da esperança que o levasse a pinheiro).

Até o corrector ortográfico assinala erros por desconhecimento do vocabulário.

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