quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de Abril sempre, e hoje ainda mais



«(...) o caminho seguido pelo governo para o objectivo de cumprimento do memorando da troika (...) não teve em conta qualquer preocupação em salvar um quantum da economia nacional, desprezou os efeitos sociais do “ir para além da troika”, não deu importância a qualquer entendimento social e político, vital em momentos de crise. Foi um caminho de pura engenharia social, económica e política, prosseguido com arrogância por uma mistura de técnicos alcandorados à infalibilidade com políticos de aviário, órfãos de cultura e pensamento, permeáveis a que os interesses instalados definissem os limites da sua política. Quiseram servir os poderosos com um imenso complexo de inferioridade social, e mostraram sempre (mostrou-o de novo o primeiro-ministro ontem), um revanchismo agressivo com os mais fracos. 
Pensaram sempre em atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias, serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais, contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas. Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que estão a fazer.
José Pacheco Pereira, Abrupto, 8 de Abril de 2013


Por isto, hoje, os cravos estão descoloridos e oferecem um ténue perfume.
Mas (aproveito as palavras de Torga) somos "obrigados a andar para diante, forçados pela realidade. A hora de sim ou sopas. De total rotura e mudança. Basta de remendos num pano podre. E o capitalismo só remenda farrapos. Quanto mais tem, mais quer. E quanto mais promete, menos dá."
Miguel Torga, Diário XVI 

Escrito a 6 de Junho de 1993, encontrava-se Miguel Torga na fase final da sua vida, este excerto foi retirado de uma das entradas do seu Diário em que o tema central eram as eleições espanholas, ganhas pelo PSOE com uma margem apertada. Em Portugal era 1.º Ministro Aníbal Cavaco Silva. 
Ouvi, hoje, que Espanha passou os 6 milhões de desempregados.
 Faz falta um 25 de Abril Ibérico.


Para podermos viver o seu espírito e não ficarmos pelas recordações.




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