terça-feira, 29 de maio de 2012

Um 28 de Maio com cantigas

«Faz-nos falta o génio, a autenticidade e o comprometimento. No Portugal de hoje, grande parte dos artistas mais divulgados é estéril.»

Foi ontem posta à venda a reedição de Cantigas do Maio, de José Afonso, original de 1971. Aquele que considero o melhor disco de sempre de música portuguesa.
Gosto é gosto e tem raízes afectivas que nem sempre a razão conhece. Por isso é que gostos dificilmente se discutem.
Ouvido às escondidas antes do 25 de Abril - foi nessa condição que um colega de liceu me emprestou uma cassete, em 1973, que também tinha gravado o Venham mais cinco.
Nessa altura ter um gravador-leitor de cassetes era um luxo, mas a minha mãe gostava dessas inovações.
Sob a direcção musical de José Mário Branco, este disco assinalou uma alteração estética na produção discográfica de José Afonso, instrumentalmente enriquecido e mais "versátil", mas coerente com a raiz popular das canções, a sua matriz filosófica-ideológica e os "sons nobres" de que José Afonso não abdicava.
Diz José Mário Branco, «(...) era a sensação de como se, de repente, me pusessem nas mãos um punhado de diamantes para eu lapidar.»
Eram e são diamantes. E foram exemplarmente lapidados.
Gostos...


«Numa altura em que se podia perder a vida se se cantasse com honestidade, Zeca cantou as suas convicções, as suas utopias e o seu coração. Cantou sempre o seu coração. Hoje poucos o fazem. Estão todos a tentar sobreviver, todos a tentar absorver o conceito hegemónico de Arte mercantilista.»
Citações de Valete, na presente edição de Cantigas do Maio



Que estas cantigas exorcizem as forças do outro 28 de Maio de triste memória, que ainda hoje nos magoam, pelos atrofiamentos causados.


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