domingo, 4 de dezembro de 2011

Hoje servimos coelho

Coelho guisado à moda da Porcalhota, para sermos mais exactos.

A Vila da Porcalhota, que tinha uma Porcalhota de Cima e uma Porcalhota de Baixo, separadas por uma calçada, deu origem à Amadora, hoje uma populosa cidade, contígua a Lisboa.
A Porcalhota localizava-se no “longo” caminho que levava de Lisboa a Sintra. Era um ponto de paragem das carruagens, para descanso dos viajantes e das suas bestas, antes da existência do comboio. Aí havia restaurantes estaminés especializados na preparação de coelho, que era bastante apreciado.

Ex-Porcalhota
(por muito antiga que pareça, esta foto já deve ser do início da década de 1960)

Quando Carlos da Maia abalou de Lisboa para Sintra atrás das saias da Madame Castro Gomes (Maria Eduarda, para os amigos), arrastando o Cruges (pretenso compositor musical), o breque seguiu pela estrada que atravessava a Porcalhota.
Como conta Eça:
«O maestro desembaraçou-se do seu grande cache-nez. Depois, encalmado, despiu o paletó e declarou-se morto de fome. Felizmente estavam chegando à Porcalhota. O seu vivo desejo seria comer o famoso coelho guisado – mas, como era cedo para esse acepipe, decidiu-se, depois de pensar muito, por uma bela pratada de ovos com chouriço.”
Eça de Queirós, Os Maias

No final dessa viagem, o Cruges também se esqueceu das queijadas para a mãe... (acho que foi neste ponto do romance).

1 comentário:

  1. "A gente em Lisboa estraga a saúde!" (diz Cruges, quando puxa a si a travessa de ovos com chouriço). Trabalhando na Amadora há tanto tempo, esta é uma parte d'Os Maias que me dá sempre muito prazer: o ar idílico e etéreo de uma terra campestre, talvez até algo boçal... cheia de carros, prédios altos e todos os vícios, mesmo os piores, de uma grande cidade, não muito grande mas muito bem recheada.

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