domingo, 20 de novembro de 2011

José Rodrigues Miguéis e Lisboa (1)

De José Rodrigues Miguéis diz Luísa Ducla Soares: “é porventura o escritor mais enraizadamente Lisboeta.”

Lisboa, simultaneamente cenário e personagem, é o centro de muitas das suas obras, mesmo sendo escritas no prolongado exílio americano.

“É Lisboa uma realidade em si, e será preciso tê-la conhecido e vivido nela para bem a compreender e amar.”
(JRM, A escola do paraíso)

Mesmo que Lisboa tenha diferentes faces...

“Lisboa é a liberdade, a fantasia, o lirismo, o progresso, a vida e unidade da Nação.”
(JRM, Lisboa triste e alegre)

“Lisboa é feminina, ociosa, parasitária, vive da política e do boato.”
(JRM, O milagre segundo Salomé)

Com a entrada do século XX, a 9 de Dezembro de 1901, nasceu José Claudino Rodrigues Miguéis, na mansarda do n.º 12 da Rua da Saudade, perto da Sé, de onde se avista o Tejo.

“Na grande cama de ferro do casal, no quarto ao fundo, branca como os lençóis, a dona Adélia repousa com o filho ao lado, já lavado e enfaixado. Reabre a custo os olhos imensos, como se as pestanas lhe pesassem, e procura a parteira. A sua voz é um sopro:
- É menino ou menina, comadrinha?
- É rapaz, é rapaz! E perfeitinho, um latagão!”
(JRM, A escola do Paraíso)

Nem uma simples placa assinala esse nascimento no prédio que ainda há pouco teve direito a obras de conservação, voltando a ganhar o tom rosado que JRM refere em O milagre segundo Salomé...

“Não se pode ter nascido ali, viver a ver chegar e partir navios todos os dias, com um rasto de lágrimas e o esvoaçar de adeuses no azul, nem ouvir noite e dia estas vozes, sem ficar impregnado de irremediável nostalgia.”
(JRM, A escola do paraíso)

“Os paquetes atracam logo em baixo, no cais, e a rua deve talvez o nome à saudade que para sempre ficou flutuando no sítio: a saudade dos que ficam, e a dos que partem e querem prender-se à terra, de braços, olhos e almas alongadas.”
(JRM, A escola do paraíso)


N.º 12, Rua da Saudade

“Subiu (...) à Rua da Saudade, onde raro vinha agora: o prédio em cuja água-furtada nascera dormia um sono pombalino e rosado sob o peso das recordações: teve uma golfada de nostalgia, que a morte do pai avolumou. Seria possível que o germe da felicidade que nele fermentava datasse dos primeiros cinco anos de vida que ali passara?”
(JRM, O milagre segundo Salomé)

Rio Tejo visto das instalações do Teatro Romano
(perto do prédio onde nasceu José Rodrigues Miguéis)

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