quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Grande Missa de Bach – aquela que o próprio autor nunca ouviu

Fui assistir à Missa em Si menor, de J.S. Bach, no CCB, ontem, pela Académie Baroque Européenne d’Ambronay.

Bach é sempre Bach, o que nos dá uma garantia e conforto, mesmo quando as coisas não correm como esperamos. Temos sempre um air bag.
A interpretação da jovem “Académie”, orientada por Sigiswald Kuijken, seguiu as conclusões de um estudioso que, na década de 1980, aprofundando as suas pesquisas sobre o papel e a composição do coro nas obras vocais de J.S. Bach, afirmava que Bach utilizava um só cantor por parte, o que faz com que o coro seja dispensado. Isto é, a obra é coral mas o coro é mínimo: 4 ou 5 cantores (como aconteceu na maior parte da actuação da Académie).
Não discuto as fontes, as pesquisas, as conclusões (quem sou eu, que não percebo nada disso!), mas... habituamo-nos a determinadas interpretações das músicas, a determinadas abordagens dos autores clássicos, que não tornam fácil a aceitação, pelos nossos ouvidos, de versões novas.
Ouço tanto a Missa em Si menor pela direcção de Philippe Herreweghe, com direito a coro (como a grande maioria das interpretações), que a de ontem me soube a pouco.
Bach é sempre Bach, mas até parecia que a interpretação da Missa também tinha passado pelo crivo da Sr.ª Merkel e estava em contenção de despesas.

Curiosidade: Bach compôs o conjunto da Missa a partir de várias peças parcelares, espaçadas no tempo, pelo menos, em... 17 anos (1724 a 1741)!
O que é espantoso, sabendo isso, é a coerência da obra, do conjunto. A obra-prima que J. S. Bach nunca ouviu, porque só posteriormente à sua morte é que foi executada como um todo.


Grande Andreas Scholl, o Alto que interpreta esta ária
(pequeno pormenor: não é BWV 242, mas 232)


Nos dias de hoje, em caso de apoio dos fundos comunitários, Bach seria considerado um preguiçoso ou um desorganizado, a comparticipação da CE estaria em causa e a obra, provavelmente, não seria composta.

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