quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como podemos inverter isto?

Resposta à ligação/comentário da Cátia (noutro canal)

Não se pode inverter? [a situação económica-financeira-social-política e essa cangalhada toda]
Poder... podia, mas não com esta gente.
Nesta altura, sou homem de pouca fé.
Pode ser uma fase (às vezes há alinhamentos astrais, contextos pessoais que dificultam uma visão optimista).
Mas, mesmo pensando mais friamente, não antevejo essa inversão, um câmbio de sentido... pelo menos, para já.
Portugal não é uma ilha (e se calhar, é pena!)
Somos uma peça (pequena) numa engrenagem (grande).
Quando olhas à volta e vês outras peças maiores e mais importantes serem governadas como são, a começar pela Comunidade Europeia (parece que somos governados por um molho de nabos!)...
A CE não é comunidade, nem sei se existe ainda – não há um sentido colectivo. A Alemanha e a França decidem e cada um dos restantes países safa-se o melhor que pode, mesmo prejudicando os outros. “Nós não somos a Grécia!” – dizem os nossos governantes. Mas olimpicamente vamos a caminho disso!
Governa-se em função de números, dados estatísticos (mesmo que falsos), que não deixam ver as pessoas. Assim são os governos: impessoais, frios, tecnocráticos, como os modelos de gestão de empresas, que se querem extensíveis às escolas, serviços de saúde, etc. São os novos paradigmas. São neoliberais (dizem). Pode ser que venham a “passar de moda”, mas, entretanto, são como os eucaliptos: secam tudo à sua volta.

Inverter? É preciso acção e muito pensamento.
Não basta indignarmo-nos. Pode ser um princípio. Aqui, ali... No fim de semana passado, nas ruas de 900 cidades de cerca de 80 países houve o protesto dos ditos indignados contra as políticas financeiras e as medidas de austeridade.
A luta pela inversão tem de ser global e local. Mas como dizia Vasco Santana, no filme, “Chapéus Indignações há muitas!” Até os “situacionistas” compreendem a(s) indignação(ões).
Organizar a indignação para que ela seja consistente não é fácil. Há muitos jovens indignados, como é natural, e os jovens são mais impulsivos e voluntariosos. Os indignados mais cotas já terão alguma dificuldade em se identificarem com um movimento “juvenil”.
As gerações mais novas, pela sua vivência e formação, são mais individualistas e assertivos, funcionando numa lógica mais desenquadrada.

Politicamente, no concreto, o BE será a organização mais próxima deste tipo de manifestação/acção. O PCP é mais “clássico” na forma de actuação, enquadra-se e enquadra de outra maneira. E a grande maioria, mesmo insatisfeita, vota no mesmo ou parecido quando chega a hora de decidir nas urnas, vota CDS-PSD-PS. As maiorias dão conforto e desculpabilizam. As responsabilidades são disseminadas.
Os sindicatos pararam no tempo, qualquer que seja a tendência.
O exercício da cidadania em Portugal não é exemplar (por mim também falo) e os partidos ou organizações que existem são paternalistas.
Novas organizações políticas e sociais? Não é fácil a sua afirmação. Tudo está cristalizado. A diversidade (e teimosia?) de posições dificulta a organização de qualquer movimento que se pretenda eficaz. O pós-25 de Abril foi fértil, agora... Pode ser que, no futuro, a necessidade obrigue.
Ideologias? Moribundas ou inexistentes. Afirmou-se já o fim das ideologias, o que seria a sagração da vitória dos tecnocratas, daqueles que dizem que não há alternativas.
É aqui que faz falta o pensamento – pensamento alternativo, entenda-se, que faça inverter ou que crie esperança na inversão. O que vejo (ouço) é pobre, muito pobre.
Por isso tenho dificuldade em ver mais longe e em acreditar que a inversão é possível a curto ou médio prazo.
Vou-me indignando um bocadinho todos os dias (uns mais do que outros).
Indignação, quem a tem chama-lhe sua.
Pessimista?

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