sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Os meus estorninhos

«Quando ele parava, os estorninhos ficavam a voar em círculo ou desciam fragorosamente sobre uma árvore, desapareciam entre os ramos, e a folhagem toda estremecia, a copa ressoava de sons ásperos, violentos, parecia que dentro dela se travava ferocíssima batalha. Recomeçava a andar (...) e os estorninhos levantavam-se de rompão, todos ao mesmo tempo, vruuuuuuuuuu. (...)
(...) Para o fim da manhã começará a aquecer, por entanto há uma brisa frescal e límpida, lástima não poder guardá-la no bolso quando viesse a ser precisa na hora do calor. Ia José Anaiço discorrendo estes pensamentos, vagos e involuntários como se não lhe pertencessem, quando deu por que os estorninhos tinham ficado para trás, esvoaçavam além, onde o carreiro faz a curva para acompanhar a lagoa, procedimento sem dúvida extraordinário, mas enfim, como se costuma dizer, quem vai vai, quem está está, adeus passarinhos. José Anaiço acabou de contornar a alverca, quase meia hora de passagem difícil, entre espadanas e silvados, e retomou o caminho primeiro, na direcção em que antes viera, de oriente para ocidente como o sol, quando de súbito, vruuuu, apareceram outra vez os estorninhos, onde teriam estado eles metidos. Ora, para este caso não há explicação.»
José Saramago, A jangada de pedra

No livro de Saramago, o professor José Anaíço é acompanhado constantemente por uma nuvem de estorninhos. Nas últimas semanas, também me apareceram revoadas de "estorninhos" - dos meus "estorninhos".
E havia alguns de quem eu não sabia há anos.
Olha... É o que tem de bom o facebook!


Do Negrito a Angra do Heroísmo - Maio de 1997
Um bando de estorninhos


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