domingo, 27 de março de 2011

Portugueses - Viver no Estrangeiro

Eu costumo dizer, por piada, que Portugal não se salva enquanto todos os portugueses não forem obrigados, por lei, a fazer o estágio de alguns anos no estrangeiro, mas proibidos de encontrarem-se uns com os outros. Esta proibição é da maior importância, para impedi-los de assarem colectivamente sardinhas, cozerem bacalhau com fervor nacionalista, ou trocarem sofregamente as últimas novidades do Chiado. Viverem no estrangeiro, não como emigrantes em "colónias", agarrados uns aos outros, mas no meio do estrangeiro, aprendendo a língua e integrando-se nos costumes o suficiente para saberem que ninguém sabe da existência deles o que, com ser uma injustiça, é uma tremenda verdade. De resto, a mais triste e a maior lição é descobrir-se que, para defender Portugal, é preciso saber dele mais do que os portugueses sabem, e que quase todos os portugueses, no estrangeiro, passam pela vergonha cultural de os lusófilos saberem de Portugal, e com outra seriedade, muito mais do que eles.

Jorge de Sena, Entrevista a O Tempo e o Modo, n.º 59, Abril de 1968



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