«[Cláudio] pensou em elaborar um édito "que permitisse soltar gases e traques à mesa", quando soube que um dos seus convidados estivera em perigo de vida por se ter contido na presença dele.»
Giotto, nas suas Natividades, também não esquece os animais presentes no estábulo. Essa presença remontará à representação ao vivo das cenas da Natividade popularizadas por S. Francisco de Assis.
O primeiro presépio, criado por S. Francisco, teve lugar numa gruta em (ou próxima de) Greccio, no Natal de 1223 - há 800 anos.
Francisco peregrinou pelos lugares santos da Palestina entre 1219 e 1220 e essa visita tê-lo-á inspirado à encenação da Natividade.
É, novamente, num Evangelho apócrifo - o chamado Evangelho de Pseudo-Mateus - que se encontra a referência ao boi e ao jumento:
«No terceiro dia da natividade do Senhor, Maria saiu da gruta e entrou num estábulo e pôs o menino na manjedoura; e um boi e um burro adoraram-no.»
Evangelho de Pseudo-Mateus, XIV
Evangelhos Apócrifos Gregos e Latinos, tradução e comentários Frederico Lourenço
«1. E eis que uma mulher descia do monte e disse-me: "Homem, para onde vais?" E eu disse: "Procuro uma parteira hebreia." E ela, respondendo-me, disse-me: "És de Israel?" E eu disse-lhe: "Sim." Ela disse: "Quem é a parturiente na gruta?" E eu disse: "É a minha noiva." E ela disse-me: "Não é tua mulher?" E eu disse-lhe: "É Maria, a criada no templo do Senhor. Calhou-me em sorte como esposa. Mas não é minha mulher, mas concebeu a partir do Espírito Santo." E a parteira disse-lhe: "Isto é verdade?" E José disse-lhe: "Vem cá e vê." E a parteira foi com ele.
2. E ficaram de pé no lugar da gruta. E eis que uma nuvem luminosa sombreava a gruta. E a parteira disse: "A minha alma foi engrandecida hoje, porque os meus olhos viram coisas milagrosas; porque salvação nasceu para Israel." E logo a nuvem se afastou da gruta; e apareceu uma luz tão grande dentro da gruta que os olhos não aguentavam. E daí a pouco aquela luz afastou-se, até que o bebé apareceu. E veio e tomou o peito de sua mãe, Maria. E a parteira exclamou e disse: "Este é um grande dia para mim, porque vi esta nova maravilha!"»
Evangelho de Tiago, XIX
Evangelhos Apócrifos Gregos e Latinos, tradução e comentários Frederico Lourenço
Giotto - Natividade
Capela de N. Sr.ª da Anunciação (Capela Scrovegni)
Eis alguém com sentido prático.
À falta de serviços de obstetrícia e ginecologia no SNS da Judeia sob domínio Romano, Tiago chama à cena a figura da parteira, para tratar de Maria e de Cristo.
No Evangelho de Pseudo-Mateus há referência a duas parteiras, que José fora procurar, com indicação dos seus nomes: Zelomi e Salomé. Esta última também aparece em Tiago (sem a informação explícita de que é parteira), mas da que primeiro chega junto de Maria não indica o nome.
Giotto não esquece a(s) parteira(s) nas suas duas Natividades mais conhecidas - na pintura da Basílica de Assis são duas as mulheres que cuidam de Jesus (plano inferior).
Sentar-me e ver os outros passar é o meu exercício favorito. Entretém. Não esgota. É gratuito. Neste meu jogo-do-não são os outros que passam (é aos outros que reservo a tarefa de passar). Lavo daí os pés. Escrevo de dentro da vida. Pode até parecer que assim não chego a lugar algum mas também quem é que quer ir ao sítio dos outros?
No tempo em que Fernão de Magalhães passou pela Patagónia ainda lá não haveria cerejeiras. E Magalhães também se limitou ao litoral, que os barcos não têm pés nem rodas...
Não deu nome às cerejas, deu nome aos patagões e, daí, a Patagónia, terra dos patagões ou patagons!
O início da produção da cereja em larga escala, na Patagónia, data da década de 1970, na região de Los Antiguos, zona da província de Santa Cruz, muito próxima da fronteira com o Chile, junto a um lago partilhado pelos dois países. Esse lago, para os argentinos, tem o nome de Buenos Aires, para os chilenos o nome é General Carrera.
A cidade de Los Antiguos é o berço da Festa Nacional da Cereja.
São as condições climáticas particulares da Patagónia que determinam os atributos da cereja produzida nesta região: brotação tardia, período de divisão celular muito longo, crescimento muito lento no início e iluminação por muitas horas, parece ser a combinação mágica.
Os dias longos, com cerca de 16 horas de luz solar, dão um contributo para a sua doçura e para o nome por que estas cerejas, as mais meridionais do mundo, são conhecidas: frutos de la luz.
Chile e Argentina exportam grande parte da produção.
O meu humilde pratinho de cerezas patagónicas, dizem que argentinas (carinhas, porque devem estar a contribuir para a recuperação económica do país das pampas!), serviu para fazer o gosto à boca.
O navio Blue Marlin, transportando uma plataforma de
exploração petrolífera, saiu do porto norueguês de Hanoytangen com destino a
Singapura, fazendo hoje escala em Lisboa para se abastecer de combustível. Entrou
no Tejo ao final da manhã e ficará fundeado durante o dia.
Este navio semisubmersível tem 225
metros de comprimento e 63 metros de largura máxima, tendo sido desenhado para
transportar grandes equipamentos de exploração petrolífera offshore,
plataformas e outras embarcações, até um máximo de 75 mil toneladas.
As campanhas informativas vêm e vão por ondas e provocam-me náusea!
Agora é a onda "do caso das gémeas brasileiras" ou "do medicamento mais caro do mundo".
Critérios editoriais abjectos! Jornalistas aspirantes a Sherlockes de trazer por casa! Pretenso "jornalismo de investigação"! Legalistas da trampa! Moralistas da treta!
Gostaria de saber o que se ensina nos cursos de comunicação social, já que aquilo que se aprende ou que é aplicado, pelas amostras, deixa muito a desejar. A ânsia frenética de cada meio procurando ser o primeiro a descobrir a novidade, a evidência que comprove a teoria, o comentário que traga a luz clarificadora e explique cabalmente a origem da vida humana - encontrar o elo perdido entre o Homem e os hominídeos...
Espero que as gémeas tenham melhores condições de vida após o tratamento que fizeram.
Se o seu caso não tivesse sido atendido, muito possivelmente estaríamos numa campanha da comunicação social de sentido inverso: como foi possível não respeitar a vida de duas crianças / falta de humanidade / instituições fecham os olhos ao sofrimento de uma família / Negada prestação de cuidados médicos a duas crianças em risco de vida / etc. etc.
Enquanto os EUA, a China e a Rússia forem membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, nunca se adiantará nada em relação a qualquer situação de conflito mundial!
Há muitos anos, ainda imberbe, telefonei para um programa na rádio, respondi certo a uma pergunta e pude escolher uma música para ouvir. Escolhi Barca Bela, por Teresa Silva Carvalho.
Começou pelo fado e pela interpretação de poetas clássicos (Garrett, Antero, Régio, Florbela Espanca...). Ary dos Santos, que faria hoje 87 anos, afirmou que "Teresa Silva Carvalho não é apenas um caso do Fado. É também um caso da Poesia. (…) um talento tão sensível quanto inteligente, a delicadeza de uma expressão tão musical quanto poética."
No pós 25 de Abril, Vitorino produziu aquele que será o seu disco mais conhecido: Ó Rama, Ó Que Linda Rama (de 1977).
Senhora de uma bela voz, há muito que estava afastada dos holofotes. Talvez demasiado discreta para viver no mundo do espectáculo.
Editado há 50 anos, continua a dividir a opinião dos fãs do chamado rock progressivo. Quem gosta... adora. Quem não gosta... detesta. O meio termo parece ser difícil.
Abertura da 1.ª faixa (The Revealing Science of God)
Disseram uns que é um dos melhores exemplos do pretensiosismo extremo - exuberante - das bandas dessa área musical - "música insuportável, pretensiosa e sem significado sentimental" (Rolling Stone). Disseram outros que é uma obra que ultrapassou os limites da criatividade e da capacidade humana de criar música (Pop!).
A revista Time elegeu-o como o melhor disco de 1973. A revista Showbizz colocou-o entre os 20 piores de todos os tempos.
Os próprios intervenientes no disco têm opiniões diferentes. Rick Wakeman, o teclista, reconhecendo que o disco tem melodias marcantes, considera que vários temas se repetem, se enrolam e prolongam demasiado, ficando chatas até para os fãs. O produtor, Eddie Offord, considerou o disco horrível - "tudo parece duplamente chato" (referência ao facto de Tales from Topographic Oceans ser um disco duplo).
Os seus grandes defensores foram os seus principais mentores: Jon Anderson (vocalista e multi-instrumentista) e Steve Howe (guitarrista).
Jon Anderson, seguindo os princípios do mestre hindu Paramhansa Yogananda, apresentou Tales como uma viagem espiritual - um conjunto de quatro suites (cada uma ocupando uma face de cada um dos discos) que formam uma peça única (com mais de 80 minutos e que se deverá ouvir seguindo a ordem das faixas, pois pretenderá narrar a história da criação do mundo).
Steve Howe secundou a ideia inicial do vocalista e teve papel fundamental na composição.
Chris Squire (baixista) estaria duvidoso...
Alan White (baterista) tinha entrado muito recentemente nos Yes, substituindo Bill Brufford, pelo que não estaria em posição de ter uma opinião de peso.
Rick Wakeman era a voz decididamente contra - e deixaria mesmo os Yes antes da gravação do disco seguinte (regressaria mais tarde aos Yes, já numa fase diferente, passado o pico do rock progressivo).
A venda do disco foi um sucesso.
Curiosidade: a tournée de Tales from Topographic Oceans incluiu dezenas de concertos nos Estados Unidos (um sucesso que me causa espanto, pelo tipo de música...), no Reino Unido e em vários países da Europa, e encerrou em Roma (o último concerto, a 23 de Abril de 1974, terá terminado já nas vésperas do nosso 25 de Abril).
Eu avalio Tales from Topographic Oceans como uma das grandes obras do rock progressivo. A estrutura clássica da sua composição justifica a designação de rock sinfónico com que por vezes se classificam as obras desta corrente da música pop-rock.
Não será por acaso que, numa determinada fase da sua carreira, os Yes antecediam os seus longos concertos com a audição de O Pássaro de Fogo, de Igor Stravinsky.
«E que sentido tem a nossa vida?, que responsabilidade não será amanhã a nossa se ficarmos quietinhos a assistir ao descalabro, nesta grande prisão de gente bem comportada, que é, ao mesmo tempo, o palco de uma peça de Ionesco, onde se tomam a sério as maiores imbecilidades e o bem se confunde a todo o momento com a injustiça, com a hipocrisia?!»
«(...) Em Urbano, tudo foi luz. A vida, os amigos, as mulheres, o sorriso, as causas. Com a sua partida, o meu mundo ficou sem dúvida mais pequeno. Mas também mais iluminado. Porque ele existiu e lutou e amou e acreditou.»
Viriato Teles (2013)
Obras várias na sua 1.ª edição
Objectos e documentos de Urbano Tavares Rodrigues
em exposição na Galeria Municipal da Lourinhã (Maio 2023)
Selo de Urbano na colecção de 11 figuras da cultura portuguesa
Marcha da Paz (Lisboa, 1983): Saramago, Piteira Santos, M.ª Rosa Colaço,
Lopes Graça, Manuel da Fonseca, Cardoso Pires e Urbano Tavares Rodrigues
Como quem, vindo de países distantes fora de si, chega finalmente aonde sempre esteve e encontra tudo no seu lugar, o passado no passado, o presente no presente, assim chega o viajante à tardia idade em que se confundem ele e o caminho.
Entra então pela primeira vez na sua casa e deita-se pela primeira vez na sua cama. Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças, cidades, estações do ano. E come agora por fim um pão primeiro sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.