quarta-feira, 25 de abril de 2018

Com que então libertos, hein?...

Com que então libertos, hein? Falemos de política,
discutamos de política, escrevamos de política,
vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um,
essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho.
Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos
tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelo menos.
E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua
não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la,
mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso,
uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos.
(...)
Jorge de Sena



terça-feira, 24 de abril de 2018

domingo, 22 de abril de 2018

Eléctrico 24



Será assim (talvez).

P.S. - Encontrei uma velha foto de um eléctrico para Campolide, a passar na Rua das Amoreiras.



Lisboa W-E, Cidade Triste e Alegre

Farto de estar no aquário, fui procurar Lisboa... exposta em museu.
Encontrei o rio na relva... 

Lisboa W-E - Lisboa vista do rio Tejo, em fotografias de José Manuel Costa Alves.


Um percurso ao longo da Zona Ribeirinha, com os pés no rio, olhando para a cidade. 


E encontrei as pessoas da cidade na época em que nasci...

Lisboa, Cidade Triste e Alegre: Arquitectura de um Livro


Obra da autoria dos arquitectos Victor Palla (1922-2006) e Costa Martins (1922-1996), editada em 1959 e resultado de "um trabalho de três anos em que ambos percorreram as ruas de Lisboa, retratando-a e aos seus habitantes, assim revelando uma cidade escondida, simultaneamente triste e alegre."


Obra apresentada pelos seus autores:

«(...) o retrato da Lisboa humana e viva através dos seus habitantes – de dia, de noite, nos seus bairros, na Baixa, no Tejo – revelação ora alegre ora triste, mas sempre terna e sentida, da vida de uma cidade. Talvez por isso fosse mais adequado chamar-lhe "poema gráfico" - até porque o arranjo das imagens e a própria composição do livro têm, no seu grafismo, o fluir, a alternância de ritmos, as ressonâncias de uma obra poética.»



Voltarei à Cidade Triste e Alegre
porque

Alegre ou triste,
numa cidade como esta
é sempre para os olhos uma festa
Armindo Rodrigues

Museu de Lisboa, Palácio Pimenta (ao Campo Grande)





sábado, 21 de abril de 2018

Sandy Denny

Morreu há 40 anos, com 31 de idade.
A solo, integrada nos Fairport Convention e em outros grupos (Fotheringay, Strawbs) ou com outros músicos, deixou-nos um legado musical que faz com que muitos críticos a considerem a rainha da folk-rock britânica.



Este vídeo, para além das interpretações na BBC, deixa-nos imagens dos seus diários, uma foto-galeria e a sua discografia.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Georges Dussaud - fotógrafo do Barroso

Das terras do Barroso são sublimes as fotografias de Georges Dussaud.



«Foi o acaso que trouxe Georges Dussaud a Portugal em 1980; foi também por acaso que a viagem de regresso do Alentejo a França o fez cruzar as estradas de Trás-os-Montes. Mas nenhum acaso explicará a sua fixação num mundo ao qual regressa uma e outra vez, desde então, (...) constituindo um impressionante corpo de trabalho. Não como fotógrafo de passagem, que regista o estranho, o diferente talvez exótico, mas como um viajante que pára e vive os lugares, o quotidiano das gentes, que o abrigam, que o reconhecem como amigo, porque sabem que o seu olhar é amigo: não há nunca intrusão, mas convivência, compreensão das emoções, na justa medida.»
(M. Tereza Siza, 2007)




«O conhecimento que Georges Dussaud tem de Trás-os-Montes e da sociedade rural transmontana - que ele salva em imagens -, permite-nos partilhar os gestos mais humildes e sublimes dos quotidianos destas gentes. Não se esconde o sublime, muitas vezes, no mais humilde quotidiano?»
(José Rodrigues Monteiro)




No "país onde o preto é cor", Georges Dussaud encontra, 
"entre o preto e o branco, uma infinidade de cambiantes 
em que a luz se torna poesia".

Procurem-no!
«Ele é irmão dos grandes poetas.»

(pode ser no facebook, que alguma coisa de bom há no fb)


Barroso - Património Agrícola Mundial




As vaquinhas açoreanas aqui residentes deixam os seus parabéns aos seus parentes do Barroso.



quarta-feira, 18 de abril de 2018

Dia Internacional de Monumentos e Sítios - 2018


Para memória futura, um ponto da situação na área dos museus feito pelo ICOM - problemas e... poucas respostas.
De geração para geração continuamos com a cultura como parente pobre!
Mesmo em Ano Europeu do Património Cultural.
Esquerda, direita, um, dois, esquerda, direita...

A cultura está tão por baixo... que até a data do comunicado está errada.
Antecipa o futuro!

Comunicado ICOM

Por ocasião do Dia Internacional de Monumentos e Sítios
19 de Abril de 2018
A direção do ICOM (Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional de Museus) reuniu recentemente com o Ministro da Cultura e alertou para os problemas existentes na área dos museus. Do mesmo modo, estando o governo a meio da legislatura questionámos o senhor Ministro sobre algumas medidas prometidas em programa de governo para a área museológica, tais como: autonomizar as áreas dos museus e património; revitalizar a RPM, com vista à valorização e qualificação crescentes dos museus portugueses, dos seus profissionais e dos serviços que prestam ao público; consolidar a oferta pública de museus e flexibilizar os seus modelos de gestão e permitir que certos equipamentos culturais bandeira, como museus e monumentos de especial relevância, pudessem beneficiar de uma maior autonomia de gestão.
Apesar de estarmos na reta final desta legislatura não nos foram transmitidos quaisquer projetos de melhoria das condições atuais.
Os objetivos assumidos no Programa de Governo não têm concretização, mas, mais do que isso, torna-se evidente a ausência de um fio condutor, de uma linha de ação que permita construir um tecido museológico mais coeso e preparado para os desafios crescentes da sociedade atual. O ICOM mencionou o aumento de receitas resultante do grande crescimento do turismo, mas esta constatação não tem tido outra consequência que o aumento de arrecadação de verbas e a exaustão das equipas.
A definição de estratégia está refém da reorganização administrativa prevista pela descentralização, situação que tem desde já a consequência evidente de profundas alterações à Lei-Quadro, único quadro normativo estruturado que, infelizmente, nunca chegou a ser integralmente implementado.
As preocupações manifestadas pelo ministério prendem-se essencialmente com o modelo de gestão dos museus e monumentos da administração central do Estado, tendo-nos sido transmitido que há um novo projeto de autonomia de gestão praticamente pronto. A intenção é a de dar maior autonomia na gestão científica e cultural dos museus, mas não financeira.
Quanto à situação deficitária das equipas técnicas nos museus não há nenhuma estratégia prevista para colmatar a sangria preocupante de profissionais, resultado do envelhecimento das equipas, sendo apontada a possibilidade de melhoria do quadro de assistentes técnicos para vigilância com recurso a mobilidade de outros ministérios.
À nossa questão para quando a reposição do PROMUSEUS para os museus RPM não foi apontada nenhuma continuidade ou alternativa.
Em suma, são vários os problemas dos museus portugueses e dos seus profissionais e a falta de capacidade de concretização de algumas medidas prometidas cuja justificação é apontada como impossível de concretizar até ao fim da legislatura por razões de equilíbrio financeiro.
Foi-nos prometida informação escrita às nossas questões, o que aguardamos.
 A Direcção do ICOM Portugal



sábado, 14 de abril de 2018

Assinar o ponto

Desde a invasão do Iraque, por causa das armas de destruição maciça, que não havia tanta perfeição.

So easy, so clean!


E "desfazer" assim fábricas e paióis de armas químicas não tem consequências?
Não falo das consequências de que os russos falam. Não ficam uns pozinhos no ar? Não há uma contaminaçãozita?

Agora o Bashar que deixe de matar com armas químicas, mate só com armas convencionais.


segunda-feira, 9 de abril de 2018

Centenário da batalha de La Lys

«Está amanhecendo e um nevoeiro bastante espesso ensombra os vultos das casa ainda adormecidas (...) Subitamente a artilharia desperta ao longe. O seu rumor avoluma-se e torna-se dentro em pouco como o marulhar de uma onda brava batendo a rocha sem descanso. O longínquo horizonte ilumina-se sucessivamente (...) Os nossos ouvidos afeitos a tais tempestades reconhecem que esta é a maior de todas.»
André Brun, A malta das trincheiras



«Ao caminhar, da retaguarda cá para as linhas, atravessam-se todos os círculos da agonia até parar nestas planícies da morte. São as aldeias desmanteladas - casas mortas com as órbitas vazias e espigões de madeira fracturados em ruas cemiteriais; depois as zonas, onde a artilharia ligeira se esconde e troveja; agora os campos, eriçados de arame farpado, panos de paredes carcomidas, e granadas rebentando; enfim a terra cava-se, mergulhamos no chão: estamos nas trincheiras.»
Jaime Cortesão, Memórias da Grande Guerra (1916-1919)


domingo, 8 de abril de 2018

A prisão de Lula da Silva - Desconfianças de um regime

Não posso discutir, por desconhecimento e por falta de formação, as acusações a Lula da Silva, nem as alegações de defesa.
Aquilo que conhecemos pela comunicação social é insuficiente e muita informação já é formatada.
Os comentadores, que, por vezes, também não sabem muito mais, alinham-se pelos prós ou pelos contras, porque, a priori, já eram pró ou contra.

Lula pode ter cometido actos de corrupção, mas a sua detenção, na sequência de todo um conjunto de acções que podem ter tudo menos asseio, tresanda a prisão política.
E o que me espanta é a alegria de tantos brasileiros pela prisão de "um político corrupto", quando é universalmente conhecida a ligação estreita entre os agentes judiciais e o meio político e o nível de corrupção existente nos vários órgãos do poder político, passando pelos deputados, senadores e pelo próprio Presidente da República. É público!
Quando há agentes políticos no activo que usam dessa prerrogativa para evitarem ser ouvidos em processos e são esses mesmos agentes políticos que levaram à condenação de Lula da Silva, ou a apressaram, para o afastarem da vida política, que confiança e que satisfação pode haver num sistema destes?
Exultam quando deviam desconfiar e deviam ter vergonha de um regime que tal permite.
Mas que raio de consciência colectiva!
Quando há ameaças veladas (ou não tão veladas) dos militares... (e a ditadura militar brasileira não foi há tanto tempo assim!)
Quando os novos políticos que se afirmam, tão "puros", deixam adivinhar tendências autoritárias...

Que irão fazer os outros tantos brasileiros pró-Lula ou que, pelo menos, não alinham com estas situações menos dignas de um regime que se pretende democrata?



A canção Menestrel das Alagoas foi um dos hinos da campanha das Diretas-Já
movimento que exigia que o Congresso aprovasse a emenda constitucional 
instituindo a realização da eleição directa para a Presidência da República, 
visando pôr fim ao regime militar. As eleições de 1985, com a vitória de Tancredo Neves, 
foram as últimas por via indirecta, tendo encerrado a ditadura militar.


São regras!...

«Nós temos regras burocráticas em Portugal, nomeadamente as regras de contratação da administração pública, que são perfeitamente inaceitáveis. Nós temos regras tão complicadas para executar uma despesa que depois temos estes projectos europeus e chegamos a um ponto de, às vezes, não conseguirmos executar o dinheiro que ganhámos nestes projectos, porque as leis nacionais nos impedem. (...) Desde o dia 1 de Janeiro deste ano é uma catástrofe! Há laboratórios que estão a parar. E não estamos a falar de Orçamento de Estado! Estamos a falar de dinheiros competitivos, que nó concorremos a projectos e ganhamos, projectos europeus que têm um prazo de execução. Se não gastarmos o dinheiro naquele prazo (...) tenho que devolver o dinheiro.»

(a propósito da bolsa de investigação recebida e aqui referida)



Como regras, ou critérios, são aquelas que se cumpriram no concurso aos apoios artísticos e, depois, os próprios promotores/criadores de regras reconhecem não serem as melhores. 

E quando as regras implicam dinheiro - a sua atribuição e controlo dos gastos -, normalmente em defesa da transparência, e não se simplifica, a ideia com que fico é que se pretende exactamente o contrário - complicar para que as coisas fiquem mais opacas.
Farto de responsáveis burocratas que enchem a boca de transparência.


sábado, 7 de abril de 2018

Hiperbolsa para nanocaracterização



Investigadora do Departamento de Ciência dos Materiais da Universidade Nova de Lisboa, a cientista obteve uma bolsa avançada do Conselho Europeu de Investigação (ERC) no valor de 3,5 milhões de euros, a maior de sempre atribuída a Portugal e a maior das bolsas avançadas atribuídas aos investigadores de todos os países europeus e fora da Europa em 2018.

A cientista afirma que se trata de "um sonho tornado realidade", depois de ter submetido, no ano passado, o projeto agora contemplado com uma bolsa milionária.

O projeto "DIGISMART - Multifunctional Digital Materials Platform for Smart Integrated Applications", propõe-se revolucionar a forma como se fabricam os circuitos integrados e componentes de eletrónica, sem recurso ao silício, e explorando materiais "amigos do ambiente com propriedades excecionais à nanoescala".

Um dos principais aspectos subjacentes a todo o projecto é a utilização de materiais sustentáveis e "tecnologias amigas do ambiente". A ideia, explica a Elvira Fortunato, não é fazer a integração de vários componentes de electrónica para uma determinada função, mas sim ter um só dispositivo capaz de desempenhar várias funções.

Trata-se da segunda Bolsa Avançada (Advanced Grant) atribuída à cientista portuguesa pelo ERC. A primeira bolsa foi ganha precisamente na primeira edição, em 2008, e teve o valor de 2,5 milhões de euros, com um projeto que permitiu comprar um microscópio eletrónico e instalar um laboratório de nanofabricação, que é hoje uma referência internacional.

A nanofabricação é a produção à escala do nanómetro, um milímetro a dividir por um milhão. O microscópio eletrónico custou um milhão de euros, aumenta os objectos até um milhão de vezes e é único no mundo porque foi fabricado à medida pela Zeiss para aquele laboratório da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL.

"Com esta segunda bolsa irá ser instalado um laboratório de nanocaracterização avançada, que esperamos vir também a ser uma referência internacional", afirma Elvira Fortunato.

Foto do jornal Público e  texto retirado do jornal Expresso on-line, 4 de Abril
(a ortografia foi "desactualizada"!)

O trabalho que se faz de Ciência em Portugal, tantas vezes esquecido - desprezado - na espuma dos dias.


Reabriu o Jardim Botânico de Lisboa

Depois de (mais de) um ano fechado, para obras de requalificação, reabriu hoje.



O Jardim Botânico da Faculdade de Ciências sucedeu ao da Ajuda. 
A iniciativa da sua construção (de 1873 a 1878) remete-nos para o serpense Francisco Manuel de Melo Breyner, 4.º conde de Ficalho, botânico e literato (1837 - 1903).

O jardim, com uma enorme diversidade de espécies (entre 1300 e 1500) de todos os continentes, localiza-se junto aos edifícios do Museu Nacional de História Natural e do Museu da Ciência, instalados na antiga Escola Politécnica.

Foi classificado como Monumento Nacional em 2010, integrando todo o património artístico (esculturas) e edifícios que nele se encontram.


sexta-feira, 6 de abril de 2018

Mais 1 milhão, menos 1 milhão... não saímos do mesmo sítio!


E de repente...
Toda a gente reparou que a cultura está subvalorizada no orçamento.
Surpresa!!!
Ninguém sabia!

E todos os partidos cavalgam a onda: "É inconcebível, depois do fim da austeridade!..."
Unanimidade da esquerda à direita, passando pelo próprio Governo (que vai abrindo os cordões à bolsa).

 Milhão a milhão
enche a cultura o papo

"Encher o papo" é força de expressão: a cultura foi sempre o parente pobre. O papo é pequenino!

1% para a Cultura é pouco!


E o Bruno de Carvalho tirou o protagonismo que as manifestações dos agentes artísticos poderiam ter. O futebol está muito à frente!
A "crise do Sporting" é um "pratinho".
Os repórteres foram desviados para Alvalade... ou para a conta de fb do Bruno de Carvalho.
Ora, aí está um artista!


Contrastes no acesso à informação


Milhões de utilizadores do fb afectados pelo acesso indevido a dados por parte da Cambridge Analytica.

Em Itália, foram muitas as pessoas que não tiveram acesso à informação que lhes era devida.



Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sob nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles


quarta-feira, 4 de abril de 2018

Martin Luther King

Martin Luther King, líder do movimento norte-americano de direitos cívicos e Nobel da Paz (1964), foi assassinado há 50 anos, no Tennessee.


Assinalando a data e recordando a sua acção, milhares de pessoas marcharam hoje em silêncio, junto ao memorial em sua honra.


Golão de Cristiano Ronaldo

O golo de Ronaldo atenuou a pressão das notícias sobre o atentado contra o ex-agente duplo russo.
O caso Skripal e o conflito diplomático daí decorrente perderam intensidade na comunicação social após o pontapé de bicicleta.

Mesmo a situação que envolveu a rainha Letízia e a sogra, a emérita rainha Sofia, não foi tão empolgada em função da distracção que se apoderou dos muitos observadores, ainda a verem, em câmara lenta, o golão de CR7.

Já é caso de estudo!


Stephen Hawkings elaboraria uma nova teoria.

Agentes da cultura portugueses, pouco dados ao futebol, é que permanecem distraídos e insistem em contestar o resultado do concurso que define a distribuição de verbas pelos vários projectos a concurso.
Coisa de pobres!

O orçamento de Cristiano Ronaldo deve exceder o do Ministério da Cultura.
Não há nada como marcar golos!...


terça-feira, 3 de abril de 2018

Quero ir para o Altinho

«O viajante dormirá neste sítio de S. Gens, perto de Serpa. Há, aqui para trás, uma Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe. O que tem para ver, vê-se de fora. Não é como a paisagem que diante dos olhos do viajante se alonga. Essa quer que a vejam por dentro. É uma distância de árvores e colinas quase rasas, simples cômoros que se confundem com a planície. Já se pôs o Sol, mas a luz não se apaga. Cobre o campo duma cinza dourada, depois empalidece o ouro, a noite vem devagarinho do outro lado, acendendo estrelas. Chegará mais tarde a Lua, e os mochos chamarão uns pelos outros. O viajante, diante do que vê, sente vontade de chorar. Talvez tenha pena de si mesmo, desgosto de não ser capaz de dizer em palavras o que esta paisagem é. E diz apenas assim: esta é a noite em que o mundo pode começar.»
José Saramago, Viagem a Portugal





segunda-feira, 2 de abril de 2018

Rachmaninov

O próprio, ao piano.
Nasceu a 1 de Abril, de 1873.


«Quando vários livros de História da Música recentes omitem pura e simplesmente o nome de Sergei Rachmaninov - ou quando algumas exaustivas enciclopédias lhe dedicam menos linhas do que aquelas que ocupam com centenas de figuras obscuras -, nem mesmo se poderá dizer que incorram na desonesta intenção de esconder um nome a vários níveis merecedor de respeito, pois a fama conquistada pelo compositor é tão concreta que o infeliz desígnio censório apenas serve para cobrir de ridículo e de descrédito os musicógrafos que insistam em tamanho disparate. 
(...)
Na realidade, Rachmaninov é um caso flagrante daqueles compositores que os falsos musicólogos odeiam, porquanto não sabem ao certo em que escola, corrente (ou mesmo época...) o deverão situar, o que dificulta altamente as imprescindíveis classificações em que alicerçam os seus pareceres.
Com efeito, eles acham que, se o músico viveu e trabalhou no século XX, seria necessário - leia-se: obrigatório - que se enquadrasse em qualquer movimento mais ou menos definido, de forma a que lhe pudessem apontar influências de atonalidade vienense, ou do folclorismo bartokiano, ou do impressionismo de Debussy, ou do jazzismo americano, ou de um certo neoclassicismo stravinskiano - ou, pelo menos, de um romantismo anacronicamente herdado do século anterior...
Mas nada! O homem não se parece com nada...»
António Victorino d'Almeida, Músicas da Minha Vida