domingo, 25 de fevereiro de 2018

Procissão do Senhor dos Passos

Com origens no século XVI - celebrou 430 anos em 2017 - a Procissão do Senhor dos Passos é, neste período da Quaresma, a maior manifestação pública de fé da cidade de Lisboa.



Esta procissão, organizada pela Real Irmandade Senhor dos Passos da Graça, retomou há 5 anos o percurso original entre a Igreja de S. Roque e a Igreja da Graça.

Procissão de 2017, junto à Igreja de S. Roque


Elogio de Maria Teresa


(...)
Estás presente em mim como ninguém
e sabes quão terrivelmente amei e amo outras mulheres
além de ti além de minha mãe
Mas tu tens o meu nome clara rilke tu trocaste
a tua alegre vida irrequieta
no único infeliz dos teus negócios
(...)
Ruy Belo


Excerto do poema que Luís Miguel Cintra leu no funeral de Maria Teresa Belo (1943 - 2018), no Domingo passado.
Maria Teresa, que dedicou a vida a divulgar a obra de Ruy.


domingo, 18 de fevereiro de 2018

A possibilidade de viver num mundo melhor

Li, ainda ontem, os pedidos feitos pelo presidente do Sporting aos sócios do clube, após a vitória das suas propostas na assembleia geral do clube:
«Não comprem mais jornais, não vejam mais televisões portuguesas a não ser a Sporting TV e os nossos comentadores que abandonem aqueles programas vergonhosos de paineleiros e cartilheiros.»
Ri-me.

Depois, fiquei a pensar: "Quem é que este tipo pensa que é? Que importância é que ele atribui a si próprio? Parece que não se enxerga! O homem não pode estar bom do juízo! Armado em ditadorzeco... patético, impondo a sua vontade de menino mimado a quem todos devem qualquer coisa, inchado de tanto voto na assembleia, cheio de vento..."

Com o tempo, o que considerei uma atitude estupidamente alarve, começou a parecer-me uma ideia com potencial.

Há pouco, vi o director de comunicação do Sporting - por acaso, um jornalista - ir mais longe: pede que o boicote se estenda aos jornais online e às redes sociais.


E o potencial da ideia parece-me ainda mais elevado.

Ao contrário do que desejei inicialmente, espero que os sportinguistas respeitem a ordem do(s) grande(s) timoneiro(s) e se mantenham em profundo silêncio - não falem e não escrevam em sítio algum!

E vou mais longe: espero que o Benfica e o F. C. Porto, através dos seus mediáticos presidentes, sigam o exemplo e imponham o silêncio aos seus adeptos. E que todos os adeptos obedeçam carneiramente. Nem pensem em questionar ou, muito menos, desobedecer à vontade do chefe!

Viveríamos num mundo melhor!

Não teríamos, quer na TV quer na rádio, horas intermináveis de programas de comentários futebolísticos, muitas vezes de baixo nível.
Não teríamos mensagens de grunhos com fraco domínio da língua portuguesa e com evidente défice de QI.
O futebol - muitas vezes, nada de futebol, só o que anda à sua volta - deixaria de ser o centro do universo.

Os meios de comunicação teriam a oportunidade de reorganizar a sua programação e de a poderem melhorar.
O público teria a oportunidade de recuperar horas para actividades mais saudáveis.

A acreditar nessa possibilidade, até poderia ser que o futebol passasse a ser um desporto... mais limpo. Um desporto.
Isso: um desporto!


sábado, 17 de fevereiro de 2018

Ex(c)itação

Entre a Assembleia-Geral do Sporting, o Congresso do PSD e a 1.ª semi-final do Festival da Canção, hesito...

É muita emoção para um fim-de-semana só com dois dias!...


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

E a terra treme ainda que não trema

Já a terra não treme tanto pelas lagoas do Congro...


Fotografia de Manuel Oliveira (fb)
e do Fogo...

Dentro de cada imagem há outra imagem
e a terra treme ainda que não trema
e até mesmo o silêncio é linguagem
e as pedras são as pedras do poema.
Manuel Alegre, Escrito no Mar - Livro dos Açores


Cinzas apaixonadas

Numa Quarta-feira de Cinzas que, dizem, também é dia dos namorados, deixo cinzas apaixonadas...

Amor constante para além da morte

Pode fechar-me os olhos a derradeira
sombra que de mim leva o branco dia,
e livrar de tudo o que prendia
a alma ansiosa, a hora que se abeira;

mas não deixará na margem da ribeira
a memória dos sítios onde ardia:
minha chama nada na água fria
e a dura lei enfrenta altaneira.

Alma de que todo um deus foi prisão,
veias onde tanto fogo foi gerado,
medulas em gloriosa combustão:

o corpo deixará, não seu cuidado;
cinzas hão-de ser, mas com coração;
serão pó, sim, mas pó apaixonado.

Francisco de Quevedo (1580-1645)



terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Raúl Hestnes Ferreira

Ontem, a notícia da morte de Raúl Hestnes Ferreira, aos 86 anos, arquitecto e professor, filho do poeta José Gomes Ferreira.


Foi através do pai que o seu nome se tornou meu conhecido.
Em 1963, na 1.ª edição de Aventuras de João Sem Medo, JGF faz a dedicatória aos seus dois filhos, «Para os meus dois filhos - o homem e a criança - este Divertimento escrito por quem sempre sonhou conservar a Criança bem viva no Homem.» E torna mais explícito: «Para ti, Raúl José, homem há muito - e homem autêntico -, que aprendeste à tua custa que a verdadeira coragem é a força do coração...»

Raúl Hestnes Ferreira fez formação em várias partes do mundo. «Chegou ao Mediterrâneo por um longo e sinuoso caminho, do Porto à Finlândia, da ordem dos Modernos a Kahn, a Roma, à universidade da ordem compositiva», como assinalou Alexandre Alves Costa.

Família Gomes Ferreira
Estudo e painel de azulejos da autoria de Maria Keil, amiga da família.

«Eu também gostava muito de escrever, mas fui também muito influenciado pela personalidade do arquitecto Keil do Amaral. O meu pai convivia muito com artistas plásticos – sei lá…Manuel Ribeiro de Pavia, a pintora Maria Keil,… – e os meus padrinhos foram Bernardo Marques (desenhador) e Ofélia Marques (uma grande pintora, também). Eu fui criado nas artes, e gostava muito de desenhar. Aos 15, 16 anos, naquelas opções da escola, acabei por enveredar pela arquitectura, e não estou nada arrependido, de facto.»

Das suas múltiplas obras, de que sobressai um Prémio Valmor (2002, Edifício II do ISCTE), destaco três, mais uma vez pela ligação paterna:
- a que foi a sua primeira obra de raiz, a chamada Casa de Albarraque, em Rio de Mouro (Sintra), projecto de 1959-61, desenhada como tranquilo retiro de fim-de-semana para o seu pai, frequentemente referida nos diários de JGF, Dias Comuns;

A Casa de Albarraque (1961?), com José Gomes Ferreira ao cimo das escadas

A Casa de Albarraque (2013), com a presença de Raúl Hestnes Ferreira.
Na parede, o painel de azulejos de Maria Keil

- a escola secundária que tem o nome do pai, em Benfica (pertinho da minha antiga casa);

Escola Secundária José Gomes Ferreira (Benfica)
Maqueta e fotografia tirada do morro fronteiro

- a Biblioteca de Marvila (Lisboa), onde existe uma sala dedicada ao pai, integrando alguns dos seus objectos pessoais, a secretária onde escrevia e a sua biblioteca.


Desenhos de Filipe Pinto, aqui

Como pelo pai sinto a morte do filho.
José Gomes Ferreira que, em A Memória das Palavras, recorda a morte do irmão Jaime, quando ele, no quarto ao lado "a ouvir tudo, tudo, TUDO!...", também estava com febre tifóide.
«Fiquei eu. Sim, eu. De olhos abertos, a ouvir, a adivinhar... Eu. Terrível. Sozinho. Curioso de ouvir morrer. Mãos de horror nos lençóis. Lágrimas a secarem os olhos. (...) Meu pai entrou no quarto e deitou a cabeça a meu lado, na cama, a chorar.»


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A terra treme nos Açores - a Lagoa do Congro



Esta actividade sísmica tem tido como epicentro a zona entre a Lagoa do Fogo e a Lagoa do Congro.
O chamado sistema vulcanotectónico do Fogo-Congro representa um sector emerso de uma das mais activas zonas de fractura do Atlântico Norte.

Não é estranho que seja uma das mais importantes áreas sismogénicas dos Açores, aqui se acumulando tensões que resultam do "jogo" das placas litosféricas Eurasiática, Africana e Americana. Mesmo em períodos de “acalmia”, este sistema regista, em média, 3 a 5 microssismos por dia. De tempos a tempos a área é palco de uma crise sísmica mais importante.

Nos Açores, os sismos não podem ser dissociados dos vulcões e esse é o caso do observado no sistema Fogo-Congro. Este sistema tectónico abrange o Vulcão do Fogo, a oeste, e um alinhamento de pequenos centros vulcânicos que se estende desde a Lagoa do Fogo até ao bordo da caldeira do Vulcão das Furnas, a leste, de entre os quais se salienta a depressão da Lagoa do Congro.

A bela Lagoa do Fogo é bem mais conhecida do que a sombria e misteriosa Lagoa do Congro.
O trabalho que me deu, em 2000, descobrir esta última lagoa!...



Que saiba, nos últimos tempos o acesso à lagoa tem estado limitado.


A informação base deste post foi retirada do site do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos - aqui


domingo, 11 de fevereiro de 2018

Arte antes da arte

O caos?
O toque do artista...

Miró
Matthias Schaller, um fotógrafo alemão com projectos na área do património, fotografou paletas de dezenas de grandes pintores dos séculos XIX e XX.
Algumas dessas fotografias estão em exposição no Museu Árpád Szenes - Vieira da Silva.

Matisse
Giorgio de Chirico
Matthias Schaller considera "cada paleta uma revelação e um retrato indirecto do artista, reveladora da sua técnica pictórica".
Van Gogh
Picasso
Cézanne
"A paleta é a paisagem abstracta da produção artística de cada pintor."


Gauguin

Monet
Vieira da Silva

"Uma janela de acesso ao seu génio criativo"


sábado, 10 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

E agora, também na cozinha!...

«A nossa arte culinária é rica. Contudo, nem sempre a dona de casa, ou a rapariga, que entra na vida pelo laço sublime do casamento, está apta a realizar certos menus mais completos, distintos ou variados.»
Laura Santos, O Mestre Cozinheiro
(não sei a data - 194X ou 195X?)

Mas o Chef Avilez está!
Também na cultura gastronómica (sem necessidade de suporte estatal, qu'isto de ser Chef sem e...), Portugal é que está a dar!



terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Natural Mystic

Bob Marley faria hoje 73 anos.




domingo, 4 de fevereiro de 2018

Sebastião Fernandes (1947 - 2018)


Soube hoje que, em finais de Janeiro, morreu Sebastião Fernandes, o "velho" Sebastião, cozinheiro do Velha Goa (Campo de Ourique), proprietário, depois, do Cantinho da Paz e da Casa de Goa, que deixou para ir para o Nova Goa.

Sempre a cozinha da sua Goa, onde a comida portuguesa e a comida indiana confluem.
Recordo a sua simpatia, o seu saber e o que chorei por causa de um ambotic de cação!

«Quando eu morrer, quero que os meus clientes estejam todos lá [no Cantinho da Paz]. Quero uma festa!» (dizia ele à neta)


Logo que tenha oportunidade, lá irei!



Obras de arte adquiridas pelo Estado - Vieira da Silva

Recentemente falou-se muito na aquisição, pelo Estado Português, de um quadro de Álvaro Pires de Évora, a expor no Museu Nacional de Arte Antiga.

No Verão passado (e, talvez por ser Verão, passou mais despercebida) foi a aquisição de seis obras da autoria de Maria Helena Vieira da Silva, após vários anos de negociações entre o Estado, a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva e os herdeiros do coleccionador Jorge de Brito (anterior proprietário das obras, falecido em 2006), para a compra e impedimento de saída das obras do país.

Existe, felizmente, uma lógica diferente na política cultural. Dos valores não sei falar - não sei se são justos ou se se justificam. Parecem-me elevados (cerca de 5 milhões e meio de euros, no caso dos "Vieiras da Silva"), mas eu não sou avaliador nem contabilista, embora, como contribuinte, tenha ajudado à compra.
Como se costuma dizer, "antes aqui do que na farmácia!".
Sempre temos a possibilidade de usufruir as obras e esperar que, pelo seu valor artístico, elas possam atrair visitantes e justificar os investimentos na perspectiva financeira. Na perspectiva cultural estão mais do que justificados. 



O Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva, onde os quadros integrarão a colecção permanente, celebra agora essa aquisição pelo Estado Português, facultando entrada gratuita no museu até 9 de Fevereiro. 

São seis quadros pintados por Maria Helena Vieira da Silva num período de maturidade artística, entre 1958 e 1970.

Novembre (1958)

La Mer (1961)

Au fur et a mesure (1965)

Esplanade (1967)

New Amsterdam I (1970)
New Amsterdam II (1970)


Something is missing

«Children need art and stories and poems and music as much as they need love and food and fresh air and play. If you don’t give a child food, the damage quickly becomes visible. If you don’t let a child have fresh air and play, the damage is also visible, but not so quickly. If you don’t give a child love, the damage might not be seen for some years, but it’s permanent. But if you don’t give a child art and stories and poems and music, the damage is not so easy to see. It’s there, though. Their bodies are healthy enough; they can run and jump and swim and eat hungrily and make lots of noise, as children have always done, but something is missing.»
Philip Pullman