sábado, 25 de março de 2017
domingo, 12 de março de 2017
Raul Brandão, Húmus
«- A alma - diz ele -, ao contrário do que tu supões, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia toma cor. Há seres cuja alma é uma contínua exalação. Há-os cuja alma é duma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes de a matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. É assim que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus. Nos vegetais, nas árvores, a alma é interior, pequenina emoção, pequenina alma ingénua e humilde, que se exterioriza em ternura a cada primavera: tocada pelo grande fluido esparso, vem à tona em oiro e verde, em deslumbramento. Nos minerais, na pedra concentrada e recalcada, que dor inconsciente, que esforço cego e mudo por não poder abalar as paredes e comunicar com a alma do universo! A pedra espera ainda dar flor.»
Raul Brandão, Húmus
Celebram-se os 150 anos do nascimento de Raul Brandão e os 100 anos da edição de Húmus.
«Um livro como Húmus pode escrever-se num surto de arrebatada actividade criadora - e nem de outra maneira sabia e podia Raul Brandão escrever. O que todavia não é possível é conceber que uma obra com a riqueza e a complexidade desta possa surgir senão depois de uma larga e reiterada meditação - neste caso a sempre repetida e dramática equacionação das incógnitas que de há muito estavam na base da problemática existencial do escritor. Deste livro se poderia dizer que contém e amplia todos os outros no sentido de que nele se concentram e desenvolvem, a nível literário até aí ainda não atingido, todas as inquietações que fizeram deste indisciplinado pesquisador de mistérios um originalíssimo espírito metafísico.
Quanto a ser esta a sua melhor obra não há qualquer dúvida. Assim unanimemente os críticos o têm entendido e assim a considerava o próprio Raul Brandão, conforme testemunho de Câmara Reis.»
Guilherme de Castilho, Vida e obra de Raul Brandão
Raul Brandão - Só a luz!
«Se vale a pena viver a vida esplêndida - esta fantasmagoria de cores, de grotesco, esta mescla de estrelas e de sonho?... Só a luz! só a luz vale a vida! A luz interior ou a luz exterior. Doente ou com saúde, triste ou alegre, procuro a luz com avidez. A luz para mim é a felicidade. Vivo de luz. Impregno-me, olho-a num êxtase. Valho o que ela vale. Sinto-me caído quando o dia amanhece baço e turvo. Sonho com ela e de manhã é a luz o meu primeiro pensamento. Qualquer fio me prende, qualquer reflexo me encanta.»
Raul Brandão, Memórias III
De um escritor frequentemente sombrio...
mas que consegue pintar com palavras e tintas vivas (porque nunca foi de meias-tintas).
Caricatura da autoria de Miguel Salazar |
Raul Brandão - 150 anos
«Tenho diante de mim a sua figura enorme, vejo-o caminhar, umas pernas imensas sustentando um corpo mais pequeno, andar um pouco desarticulado, apoiado à sua bengala (...) Não esqueço mais o seu olhar infinitamente azul, a sua cabeça aristocrática, a sua voz a falar-me de coisas extraordinárias.»
Carlos Carneiro (escrevendo sobre Raul Brandão)
Raul Brandão na caricatura de Stuart Carvalhais (1927) |
domingo, 5 de março de 2017
Eu hoje tremi!
Mas depois compreendi: "Ah!!! É o Bruno de Carvalho!"
Há gente que não se enxerga!!!
Há gente que não se enxerga!!!
P.S. - E como é que as televisões alteram a sua programação, para estarem horas a analisar e a comentar eleições para a presidência de um clube de futebol, promovendo gente sem educação?