quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A neve pelos olhos dos outros


"Roubei" em Somos Transmontanos esta magnífica fotografia de Bragança branquinha.
(apetecia-me cortar, um bocadinho, o ramo mais comprido)

A liberdade and' a passar por aí


«Têm razão, mas antes de pedir às pessoas que ajam, é preciso fazer-lhes compreender que têm de agir, porque as coisas estão mal.»
Stéphane Hessel



«É preciso que a indignação dê lugar a um comprometimento conjunto.»
Stéphane Hessel

Stéphane Hessel, o indignado inquieto

Morreu Stéphane Hessel.
Tornou-se mais conhecido nos últimos anos por ter escrito Indignai-vos!, mas já tinha, à data da edição desse manifesto, 93 anos.
Foi alguém que pôde dizer "Lutei contra Hitler e fui eu que ganhei."

Nasceu em Berlim, em 1917, foi para França em 1925 e naturalizou-se francês.
Juntou-se à Resistência Francesa contra a ocupação nazi. Foi preso, passou por dois campos de concentração e conseguiu evadir-se quando ia ser transferido para outro campo. Já tinha escapado à execução por ter conseguido trocar de identidade com um homem que morreu de tifo.
Depois da guerra teve uma longa carreira diplomática, representando a França nas Nações Unidas. Destacou-se na defesa das causas humanísticas, tendo sido um dos redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Engagé até ao fim da vida, publicou Indignai-vos! pela sua preocupação relativamente à forma como tem evoluído a situação política na Europa, onde considerava existir "uma forte dominação por parte do capital, sem regulação, da alta finança económica, que é algo bem diferente da economia e do mercado."
Afirmou, em 2011, que "se fosse português, indignava-me com a maneira como Portugal está a ser tratado pela União Europeia."
Foi no seu manifesto global que "roubei" algumas das frases que, quase desde o início, orlam esta coluna.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Desinvestimento

Assisti, ontem, à transmissão pela RTP 1 da Gala da Sociedade Portuguesa de Autores.
Já vi quem a tivesse comparado à cerimónia dos Óscares, classificando-a de "gala dos pobrezinhos".

Pensando na diferença de meios, o que acho espantoso é que ainda há gente em Portugal que teima em desenvolver actividades culturais nas suas mais variadas formas e que o consiga fazer com qualidade e dignidade.
Quem ouviu os agradecimentos de vários premiados ou personagens convidadas percebeu bem o discurso azedo em relação a um Governo inculto.

Como disse Hélder Macedo em entrevista, «está-se a desinvestir no que Portugal tem e que é mais importante... a gente (...) e gente só pode ser valorizada através de cultura e de educação.»


Correntes D´Escritas - 2013




«Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados;»
Antero de Quental

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Casanova em Lisboa, em 1757

1757, Giacomo Casanova, o amante aventureiro, numa Lisboa ainda destruída pelo terramoto.
O ambiente social e político em 6 cartas, numa perspectiva cosmopolita e iluminada, para cinco diferentes destinatários.
Para lá das inevitáveis libidinosas venturas...
"Rien ne pourra faire que je ne me sois amusé." (Giacomo Casanova)

Temos pena por serem apenas 6 cartas, mas Sebastião José de Carvalho e Melo tomou conhecimento de que Casanova se evadira das prisões da República de Veneza e deu-lhe ordem de expulsão imediata, antes que houvesse um caso de escândalo internacional.

P.S. (do autor):
«Não se sabe se os destinatários tomaram conhecimento de alguma ou algumas destas cartas; se as cartas chegaram a ser expedidas; nem sequer se Casanova alguma vez esteve em Lisboa, pelo que pode nem as ter escrito. É esse o princípio da ficção.»
António Mega Ferreira

Aquilino Ribeiro

Iniciaram-se as actividades evocativas de Aquilino Ribeiro, por ocasião dos 50 anos da sua morte.
No Panteão Nacional recordou-se "Aquilino - o Homem e o Escritor".

Todas as razões são boas para se falar de Mestre Aquilino.

«De pena na mão procuro ser independente, original, inteiriço como um bárbaro.»

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Quando voar... solte os gases que há em si

Sem complexos...


Os problemas de flatulência serão causados pelas alterações de pressão no sistema digestivo.

Design de cortiça em exposição no Brasil

Está em exposição no Clarck Art Center (Rio de Janeiro), no âmbito da celebração do Ano de Portugal no Brasil, o trabalho de seis designers portugueses que criaram peças de mobiliário e acessórios com cortiça.


Uma das peças de maior sucesso é um bloco de pufes de aglomerado de cortiça - a "lagarta".

sábado, 23 de fevereiro de 2013

À menina que afixa azulejos

Os azulejos com "mimos" que afixas nos meus muros - ou um simples sinal vosso - parecem-me lembranças de sonhos.

As mudanças no mundo em que vivemos e trabalhamos - a nossa vidinha - são tão grandes que, quando páro a pensar, nem acredito que era apenas há uma década e meia que nos encontrávamos na escola, trabalhávamos - ainda sem net! - e nos conseguíamos divertir. Foram tempos felizes e, acho eu, em que conseguimos ser felizes, vocês e eu.
Vivíamos uma época de esperanças.

Hoje, chega a haver momentos em que tenho a estranha sensação de viver fora da realidade, ou de viver uma realidade que me é estranha. Mas este é um país estranho que, estupidamente, consegue escolher ETs para nos (des)governar.
Alguém viveu acima das suas possibilidades e nos estragou a vida. Matou a esperança.
Às vezes, vejo-vos por "rios tristes" que não merecem, sem oportunidade de mostrar o que é o vosso valor.
O país vai hipotecando o futuro - o seu (colectivo) e o de todos.

A Escola sem alma - triste retrato do país - é um esforço, doloroso, para todos e eu já dispensava esse esforço.
Faz hoje 30 anos que comecei a ser professor. Mas, neste filme, já nem sei bem qual é o meu papel.
Houve alguém que deu cabo "disto". E não foram vocês, nem fui eu.

P.S. - Mesmo que não comente ou cole os likes da ordem, não sou insensível aos "azulejos".
Beijinho

Parabéns a Handel

Parabéns, Georg Friedrich Handel, pelo teu 328.º aniversário.



Debussy - Prélude à l'Aprés-midi d'un faune

De Debussy tenho uma especial predilecção por Prélude à l'après-midi d'un faune, a primeira grande experiência orquestral do compositor, que vi, já há muitos anos, dançado pelo Ballet Gulbenkian. Uma música sonhadora...
Debussy teria o projecto de um "tríptico" baseado num poema de Mallarmé, Prélude, interludes et paraphrase final pour l'après-midi d'un faune. Mas ficou pelo Prelúdio, "uma ilustração muito livre do belo poema de Stéphane Mallarmé." Este agradeceu.
A flauta - o tema do fauno - é a linha condutora de um quadro com muitas cores.


Este vídeo tem o grande mérito de ilustrar a música com pinturas contemporâneas de Debussy. Por isso, é recomendável para quem está disposto a usufruir da música e das pinturas, cerca de 11 minutos que valem a pena.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Queijo de Serpa - maravilha da queijaria universal

Só na década de 30 do século passado apareceram referências específicas ao queijo da região de Serpa. Até aí falava-se, genericamente, em "queijo alentejano" ou "queijo do Alentejo".
Dizem as boas línguas que Vasco da Gama levou 2646 queijos alentejanos na sua viagem de descobrimento do caminho marítimo para a Índia.

O queijo de Serpa era oriundo da região conhecida por "margem esquerda", zona compreendida entre o rio Guadiana e a fronteira com Espanha - concelhos de Serpa e Moura.

Silva Porto - Guardando o rebanho
Era um queijo inteiramente artesanal, feito a partir do leite cru das ovelhas merino, especialmente produtoras de lã e de carne. Mas após a cria dos borregos fazia-se a ordenha dessas ovelhas e o leite, apesar de ser de  diminuta produção, tinha um elevado teor de gordura e de proteínas, bom para queijo.

O seu fabrico acontecia nas "rouparias", queijarias rústicas pertencentes às próprias herdades. O nome tem origem na grande quantidade de panos (a "roupa") que era necessária à sua produção - a filtração do leite fazia-se através de vários panos grossos, coando-se as muitas impurezas que o leite apresentava, devido ao tipo de terreno, condições de ordenha, acondicionamento, transporte até ao lugar da feitura, etc.

O processo de fabrico tinha semelhanças ao do queijo da Serra, com utilização do cardo para a coagulação, o que se poderá dever á prática da transumância que se verificava da serra da estrela para o Alentejo. Mas as características do leite eram diferentes, pela microecologia da região e pelas práticas de manejo dos rebanhos e de obtenção do leite.

Olleboma, na sua Culinária Portuguesa (1928), escrevia:
«Ainda de tipo semelhante ao da Serra há o do Alentejo. É fabricado especialmente na serra de Serpa e em Beja. Tem a mesma forma dos da Serra, mas de maiores dimensões, tendo o peso de dois a três quilos, cada. São também de leite de ovelha e fabricados pelo mesmo processo, porém um pouco mais salgados, e levemente picantes, com sabor muito agradável, mas um pouco diferentes dos da Serra, por serem diferentes os pastos das duas regiões.»

A tradição já não é o que era. A "modernidade" sofisticou o processo: as ovelhas produtoras são, fundamentalmente, de raças não autóctones (mas que dão mais leite), a industrialização segue as regras de higienização e de controlo, certos procedimentos tradicionais tiveram de ser abandonados.

Em 1987 foi criada legalmente a Região Demarcada do Queijo de Serpa. Esta região é bem larga, até de mais: abrange todos os concelhos do distrito de Beja e cerca de uma dezena de freguesias de concelhos do distrito de Setúbal (Odemira, Santiago do Cacém, Grândola e Alcácer do Sal). Quase chegava ao Seixal!!!
Mas o Queijo de Serpa, com denominação de origem desde 1994, protegida (DOP) desde 1996, ainda tem o seu quê. "Maravilha da queijaria universal", nas palavras de José Quitério.

E, para mim, Queijo de Serpa é mesmo o de Serpa.

Debussy - Green


A mélodie.
Das Ariettes Oubliées - Debussy, inspirado em Verlaine, de quem era amigo, numa fase ainda precoce.



Voici des fruits, des fleurs, des feuilles et des branches
Et puis voici mon coeur qui ne bat que pour vous.
Ne le déchirez pas avec vos deux mains blanches
Et qu'à vos yeux si beaux l'humble présent soit doux.

J'arrive tout couvert encore de rosée
Que le vent du matin vient glacer à mon front.
Souffrez que ma fatigue à vos pieds reposée
Rêve des chers instants qui la délasseront.

Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête
Toute sonore encor de vos derniers baisers;
Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête,
Et que je dorme un peu puisque vous reposez.


P.S. - Não pude seguir todo o concerto.

Relvas pato-bravo

«Miguel Relvas não perde a dignidade por ser interrompido com a Grândola. Miguel Relvas perde a dignidade quando resolve grasnar a Grândola como pato-bravo que é.»
Rui Tavares, Público, 20 de Fevereiro de 2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Caminha, rapaz!

Caminhando em Caminha
Um abraço, Nuno.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cai chuva do céu cinzento

Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente 
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.
Fernando Pessoa

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Mudanças

      «Em longo se transforma o breve engano,
      e o discurso em vento,
      e o desejo em medo.
      E a esperança
      em memória, e o pensamento
      em bússola cega
      para o mundo.
      E em vidro o espelho apaga,
      gasto de mágoas e mudanças,
      o claro rosto do futuro.»
                              Pedro Mexia

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Tecnologias

A minha abstinência em relação a concertos, nos últimos tempos, e as proibições habituais de captação de som e de imagem não me faziam imaginar a proliferação dos novos mini-equipamentos para fotografar, filmar, gravar... Só isso permitiu o vídeo do post anterior.
Onde há uns anos se acendiam isqueiros... acendem-se as luzes de larguíssimas dezenas de telemóveis ou dessas últimas modernices que nos espantam pelo que conseguem fazer.
Eu fiz o melhor que podia! Também levantei o meu telemóvel...


Mas o efeito não foi o mesmo.

A música no (meu) tempo

Assisti ontem, provavelmente, ao (meu) último concerto de música pop.
É o que tem a idade.
Já não me consigo identificar o suficiente com a música que se faz para justificar que levante o rabo da cadeira. Pelo contrário, é mais fácil, sentado na cadeira, ouvir a música de que gosto.
Já não considero possível reformatar o meu ouvido (ou a minha falta de ouvido) musical.
Já não vou estando devidamente a par do que de novo se faz na música. E sei, de fonte segura, que  J. S. Bach, Mozart, Monteverdi e outros amigos não têm composto muito, ultimamente.
Já não partilho com os amigos a ansiedade e a alegria da novidade de um novo disco.
Já dificilmente escapo ao back to the classics.
Os Sigur Rós terão sido, possivelmente, os últimos a furarem a teia e a serem incorporados no meu Olimpo musical, sem destronarem, no entanto, os nomes maiores da hierarquia. Não exageremos!...
Mas ontem a noite foi deles.


Para mais tarde recordar (como tudo o que se vai publicando por aqui).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sigur Rós em Lisboa

É já amanhã.
Lá estarei, religiosamente (quase tanto como a música)


P.S. - Religiosamente pagã

Rádio Clube Português - as origens na Parede

Uma pessoa mete-se na net e depois... não desgruda. Isto é como as cerejas.
A propósito da história da rádio em Portugal, encontrei a referência à estação que deu origem ao Rádio Clube Português (RCP). Sabia que o RCP tinha tido estúdios na Parede, mas não sabia que o seu nascimento tinha sido mesmo aqui, quase ao lado.

Jorge Botelho Moniz
na CT1DY (1928)
Rádio Clube Português foi a designação criada em 22 de Novembro de 1931, depois de se ter chamado CT1GL - Rádio Clube Português. Antes teve a designação de CT1GL - Rádio Clube da Costa do Sol (1931), que sucedera a CT1DY - Rádio Parede (1930) e, antes, apenas CT1DY (1928), quando era um pequeno posto emissor, fundado por Alberto Lima Bastos e Jorge Botelho Moniz, que trariam muitas inovações para o meio radiofónico português.

Quando foi criado o emissor, em 1928, a capacidade de transmissão era tão reduzida que, ironicamente, diziam ser a estação oficial do "Estado Livre de Parede e Galiza".
Inicialmente, os horários de transmissão eram um "pouco" reduzidos: 3.ª e 5.ªs feiras, das 22.30 h às 00.30 h, e Domingos, das 15.00 h às 18.00 h e das 22.30 h às 00.30 h.

No tocante ao crescimento do RCP, que terá alguma relação com a proximidade de Botelho Moniz ao novo regime... isso já é ir muito longe. Eu não queria sair da Parede...

Rádio Clube Português - emissores na Parede (anos 50 do século passado).
Deixaram de funcionar em 1966


Dia Mundial da Rádio

Porque hoje é Dia Mundial da Rádio e esta desempenhou um papel importante na história do século XX, ao longo do qual se foram aperfeiçoando as formas de comunicação instantânea à distância.
Inesquecível, para quem viveu o momento, o que foi, por exemplo, a cobertura radiofónica do 25 de Abril de 1974 (ilustrada ficcionalmente no filme de Maria de Medeiros). A estação do Rádio Clube Português confundiu-se com o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas e passou a usar o subtítulo de Emissora da Liberdade.

Rádio Clube Português,
25 de Abril de 1974
Muitas informações sobre a história da rádio podem ser encontradas em Telefonia Sem Fios - História da Rádio em Portugal.

Aquela que terá sido a primeira emissão de rádio, com transmissão de voz humana e música, tocada ao vivo, e objectivos de entretenimento, aconteceu na noite de Natal de 1906, por um canadiano (Reginald Aubrey Fessenden), destinando-se aos operadores de telégrafo dos barcos fundeados ao largo de Brant Rock (Massachussets).

Em Portugal, Fernando Cardelho de Medeiros (Rádio Hertz) teria posto em funcionamento um emissor de rádio em 1914, para ser ouvido, na primeira vez, por... uma pessoa. Tratou-se mais de uma experiência do que de uma emissão estruturada.
A primeira emissão de  música e voz "em forma" teria acontecido em 1919, pelo Comandante João Frederico Júdice de Vasconcelos (que viria a ser o primeiro director da Companhia Portuguesa Rádio Marconi) e pelo escritor Albino Forjaz de Sampaio, a partir de um posto emissor instalado no Monsanto (Lisboa).

De resto, a história da rádio em Portugal foi, inicialmente, muito atribulada, com muitas experiências falhadas e muitas desconfianças dos poderes políticos.

Transmissão directa de um concerto, em Lisbos (1926)
E por muita concorrência que exista por parte de outros meios, a rádio tem tudo para continuar bem viva entre nós. Não nos podemos esquecer que ainda vamos no aquecimento das válvulas...



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Do Seixal para Veneza, de cacilheiro


Joana Vasconcelos apresentou, no Seixal, aquele que será o pavilhão de Portugal na 55.ª bienal de artes plásticas de Veneza.
Será um "pavilhão flutuante" - um cacilheiro (o Trafaria Praia II*), que se encontra no estaleiro da Navaltagus em obras de adaptação.
A ideia é revesti-lo de azulejos que representem Lisboa vista a partir do Tejo, como o painel que se encontra no Museu do Azulejo, que parece ter sido a fonte inspiradora.
O cacilheiro será transportado por um cargueiro, no início de Maio, para chegar a Veneza a tempo de ser inaugurado no final desse mês. É o que se pode chamar património flutuante.

O Trafaria Praia navegando no Tejo
Mais uma longa viagem para um barco que, construído em Hamburgo (1960), veio dessa cidade para a frota da Transtejo, em 1996, fazendo a carreira Belém - Porto Brandão - Trafaria.
O Trafaria Praia irá transportar os visitantes por vários percursos em Veneza.
Para Lisboa estar plenamente representada em Veneza, terão de vender pastéis de nata a bordo.

* O primeiro Trafaria Praia deixou de navegar no Tejo em 1982. Estava, ainda há poucos anos, a fazer passeios turísticos em Portimão.


Bom sinal

«Farei ver maravilhas lá em cima no Céu e sinais cá em baixo na Terra (...)»
Actos, 2-19


Mais do que sinal divino, a renúncia do Papa parece-me um sinal de lucidez.
Ao contrário do que é/tem sido costume, alguém que só devia deixar de exercer as suas funções em último recurso (muitas vezes, a morte) abdicou, considerando já não estar na plena posse de todas as suas capacidades (aparentemente mais as físicas e psicológicas) para o exercício do cargo.


Trás-os-Montes e Alto Douro

Temos de reconhecer aspectos positivos no fb. Há que os usufruir.
Somos Transmontanos tem divulgado um largo conjunto de fotografias do Douro e do Nordeste Transmontano (como os caretos do post anterior), algumas de grande beleza, como estas.

Fotografia de Miguel Moreno
Fotografia de Rui Pires 
«Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.»
Miguel Torga, Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes), in Portugal


Entrudo chocalheiro

Entrudos chocalheiros são no Reino Maravilhoso.

«Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite.»
Miguel Torga, Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes), in Portugal

Caretos de Podence, Salsas, Ousilhão e Varge (Bragança)
 «- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...»


Não deixo de sentir um "arrepio" - uma ausência - quando ouço esta 
interpretação de Janita Salomé, no último disco de José Afonso 


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Lisboa - da Senhora do Monte


Mais uma viagem pela Senhora do Monte. Não foi assim tão boa pelo vento que fazia...



Capela de S. Gens


Síndrome de Latimer e acne histérico

O título deste post é uma espécie de cilada, uma experiência para comprovar modelos de frequência da net.
Até hoje, o termo de pesquisa que mais conduz a incautas visitas a este blog é o nome do pintor criado por Arturo Pérez-Reverte em A tábua de Flandres - Pieter van Huys.
Quando li o livro de Pérez-Reverte tive a mesma curiosidade - saber da real (ou fictícia) existência deste pintor.
Agora foi outro escritor espanhol, David Trueba, no seu primeiro romance, Aberto toda a noite, a falar da síndrome de Latimer e de acne histérico. Curiosidade semelhante e, novamente, andar em círculo - estes nomes remetem para o romance (outros que já andaram às voltas).
A mesma situação/imaginação. Os espanhóis estão muito inventivos.
Mas estão bem inventados. Em caso de dúvida leiam o(s) livro(s).

P.S. - Agora fica a minha curiosidade em saber quantos aqui vêm parar à procura de informação sobre estas doenças. Teias que a net tece.


A ponte dos assassinos


Regressou o capitão Alatriste. Editado agora em Portugal, fresquinho, o n.º 7 da colecção, A ponte dos assassinos.
Voltar a mergulhar nas histórias contadas pelo jovem Iñigo Balboa sobre as aventuras do espadachim que servia Filipe IV, num período conturbado da história espanhola do século XVII. Homenagem de Pérez-Reverte aos mosqueteiros de Dumas.
Desta vez somos levados a várias cidades italianas.


Iñigo Balboa
Pena que na actual edição se tenham perdido os "desenhinhos" com que Joan Mundet* vai pontuando as aventuras e que se mantêm na edição espanhola e a que se pode ter acesso pela página do autor na net.


* Joan Mundet - o apelido, de origem catalã, não poderia deixar de despertar logo a minha simpatia, reminiscências da indústria corticeira no Seixal...


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Aberto toda a noite

Imaginem uma família com um pai e uma mãe, seis filhos rapazes com idades entre os 9 e os 28 anos, um avô e uma avó...
Tudo normal.
Imaginem agora que, dos seis filhos, o de 12 anos sofre de um problema - síndrome de Latimer - que o leva a crer que é o chefe de família, pai dos irmãos e do próprio pai; que o de 22 anos sofre de acne histérico, o que o torna repelente e levará à contratação de um jovem psiquiatra que recorre a métodos pouco ortodoxos (incluindo a instalação de uma tenda-consultório no jardim da casa e a contratação de uma prostituta que é a sua própria irmã); que o de 20 anos consegue engatar todo e qualquer elemento do sexo feminino; que o de 28, pretenso crítico de cinema, tendo saído de casa para fazer a cobertura do Festival de Cannes, regressou sem trabalho e casado com uma francesa (também ela pretensa crítica) que faz topless no jardim da casa; que o de 9 anos acumula e engorda (até à morte) peixes num aquário (e alguns, até, na piscina), provoca os outros e acaba por usar açaime; que o de 14 anos projecta escrever um livro, se perde de paixões e sonha com a sua primeira vez.
Imaginem, ainda, que a avó se encontra acamada (insistindo em ficar na sua casa) porque acha preferível estar na cama por sua vontade do que por doença; que o avô, para além da pretensão de escrever poesia, prossegue uma feroz campanha anti-tabagista e fala com Deus, passando a andar acompanhado por duas Testemunhas de Jeová (que também se mudam lá para casa e se vêm a descobrir homossexuais); que surgirá uma jovem para tomar conta da avó e por quem todos os homens da família se vão apaixonar - nunca a avó contou com tantas visitas da família!...
Quanto aos pais, como pensou Nacho, um dos filhos, «não deixam de ser, na estrutura familiar, dois electrodomésticos de tecnologia avançada que deambulam pela casa sem ter muito mais significado do que qualquer outro acessório do mobiliário habitual».
Não deixem de conhecer os Belitre. É divertido e não nos deixamos de espantar.

Graça Morais – “Os desastres da guerra”

Pinturas e desenhos recentes de Graça Morais (2011 - 2012) numa exposição temporária no Museu Arpad Szenes e Vieira da Silva, até 14 de Abril.


Inclui as obras das séries Sombras do Medo e A Caminhada do Medo.
Em qualquer delas, Graça Morais parte da realidade vivida directa ou indirectamente, através dos media, para a denúncia "da maldade sem rosto que ensombra a Terra" mas também para a afirmação de esperança na resistência, a recusa da "fatalidade do Medo e da indignidade do Mal".
A "maldade" é bem real, não metafórica, presente no/do nosso quotidiano. Como fonte inspiradora as imagens das múltiplas tragédias que constituem a Tragédia Humana, reveladas pela comunicação social.
«Estas pinturas e desenhos são o meu grito de alerta e de revolta perante um mundo que apreendo através dos jornais, das televisões e dos media e que também sinto no olhar das pessoas com que me cruzo no meu quotidiano, numa cumplicidade de olhares, cheios de dignidade mas também de muito sofrimento.»


Para quem pressentiu Paula Rego nas figuras de Graça Morais agora expostas, entendo que Graça Morais não é Paulo Rego. Da pintura de Graça Morais gosto (posso gostar mais, pode-me ser menos "agradável", mas gosto); ainda não consegui gostar da pintura de Paula Rego.
Por muito que as figuras humanas de GM se transformem em animais com cornos - cabras/bodes - essas figuras têm o condão de ser o lado positivo, redentor dos males - são personagens que resgatam as vítimas, os homens e as mulheres, do Inferno (dos desastres das guerras e das doenças).
Nas personagens desfiguradas de PR vejo o reflexo de fantasmas interiores, pessoais, não o "sobressalto cívico" que assumem as obras de GM, mesmo que sombrias, perante um futuro que nos está a ser roubado.
Contra a fatalidade, apesar das sombras e do medo.